Bravata
Sem corpo e sem rosto,
parteira em sentido oposto,
cruel, zombeteira,
a Dama Sinistra
desata as amarras,
lambe os beiços, afia as garras.
Quando a malvada fungar em meu cangote,
terei comigo um chicote e uma faca de corte.
Sei que cada chicotada,
cada lanho no lombo da bandida,
não redundará em nada:
a Dama é dona da Vida.
Ainda assim, não me entrego.
Carrego comigo um chicote e uma faca de corte.
Wanderlino Teixeira
Fundo Falso
SENHOR, meu Deus, em minha hora extrema,
Pelo meu nascimento decretada,
Quando diante do fatal dilema
Da mente em face do Tudo ou do Nada;
Nessa chegança ao término da estrada,
Que minha Alma ao abismo não tema
Esse sol-pôr da minha hora chegada,
Qual conclusão do último poema.
Que não relute ao império de ir-me,
E sentir pressa a sobrevir-me
O seu manto de luz por sobre mim.
É o certo isto ocorrer. Fizeste assim;
Serei um entre os mais que a Lei confirme:
Nada há por temer a um falso fim.
Geraldo Generoso
RECOMEÇO
Não te entregues ao fracasso
destes teus dias de trevas;
entende este descompasso,
que, infeliz, tu não relevas!
O sofrimento de agora
não te alcança em punição,
é alavanca que vigora
para tua salvação.
Tem mais calma e esperanças,
as sombras vão acabar!.
Espiritualmente avanças
para um outro patamar!
Amanhã, tu sabes bem,
nascerá um novo dia.
E, com Jesus, ele vem
recompor tua alegria.
Valoriza tua sina,
não te culpes no tropeço,
pois a própria Lei Divina
bem aplica o recomeço.
Ógui Lourenço Mauri
Catanduva SP, 11/06/2018.
QUANDO EU FOR
Sei que um dia
vou desta para outra.
Desta eu gosto,
mesmo com seus percalços.
Quando desta eu me for
podem crer,
pelo caminho irei
clamando, verberando, protestando,
até chegar ao Céu.
( porque, modéstia à parte, sei que vou pra lá)
A São Pedro, tão logo abra a porta,
sem cerimônia nenhuma,
eu vou logo perguntar:
--Que há ´por aqui de bom?
Tem tudo o que há na terra?
( sem os percalços, é claro).
Poque de lá estou vindo
contra a vontade, acredite.
Se ele responder que sim,
eu entro
sem reclamar.
Leda Mendes Jorge
INSTANTE IMAGINÁRIO
Tarde a colorir pensamentos
qual unguento para o transir
de fardos extensos campos
perpassados por estranhos ventos.
Revoada peregrina, atenta
cava as entranhas cerebrais
de sopros cálidos retintos
ao transpor a grande porteira.
Sem fronteira portões país
no cais do porto etéreo
rescinde ao menos dessa vez
tratantes contratos internos.
Cheiro negro e zombeteiro
resvala profundezas espessas
do entrave que a faz doce
desvão que segue sozinho.
Não quer fluir o riacho
transita lento o pensamento
ainda que ventos soprem
pouco a sentir quando anoiteço.
Ligi@Tomarchio®
A FLOR DO BALDE
Julho chegou trazendo as flores dela,
Da Hymenocallis, tão pomposo e lindo
É o seu nome, e um florir que traz infindo
Prazer de um suave quadro em aquarela...
Monet a pintaria, vendo-a bela
Num amanhecer em cor se entreabrindo,
E líricas nuanças se esvaindo
Do caule que conduz a vida nela.
Nada menos que um vaso de cristal
Pra espargires do centro ao arrabalde
Teu todo de beleza angelical...
Esforcei-me por dá-lo a ti debalde,
E louvo a tua fragrância matinal
Brotar do coração de um simples balde!
Regina Coeli