As duas faces da moeda
Ontem, o mar esbravejava;
hoje, sussurra mágoas.
Ontem, o surfista cavalgava as águas;
hoje, acomoda a prancha na concha do braço.
Ontem, em meio ao embaraço de espumas,
o sol brilhava no céu;
hoje, há um véu de brumas.
Wanderlino Teixeira
O POENTE DO BOIADEIRO
Já desmontei do cavalo,
Boiada está recolhida;
Andei por serra e valo
Buscando reses perdidas.
Fecho a última porteira,
Um por um ponho a contar:
Os bois dentro da mangueira
Para ao Patrão entregar.
Boiada foram os meus dias,
De reses de toda cor;
Bois a pular de alegria
E bois a gemer de dor,
Ao matador conduzia;
Já não sou mais lidador.
Meu berrante emudecido
No esteio está silente,
O gado está recolhido
Não há mais boi pela frente,
Faço a última parada
Na porteira do poente.
Geraldo Generoso
AMOR TATUADO
Enovelados sentimentos
tecem tramas
traumas reticentes, latentes
emergem das profundezas
do existir.
O amor encravado
trava qualquer possibilidade
do ressurgir das trevas.
Desvão com teias e pó
esquecido pelo tempo cruel
enaltece desejo de morte.
Sofrimento de amor
sem cura, só dor
tatuado na alma
imensurável, submerso no magma
centro da criação da terra mãe
a todos alimentando
na cura e renascimento.
Águas escorrem, atropelam pedras
no caminho a seguir.
Oxigênio escasso
sufoca, não há ar
vitalidade a esvaecer.
Brasas destroem sem as chamas
abrandadas pela chuva
elixir para natureza quase morta.
Final dos tempos...
Humanidade corrompida
tal coração que ama
esquecido de ser, ver e ouvir
os desígnios dos deuses tantos,
muitos já esquecidos
enterrados na memória perdida.
Ligi@ Tomarchio®
QUE É DEUS, QUEM SOMOS NÓS?...
Que é Deus, quem somos nós?...
E a resposta, sem censuras,
Surge em uníssona voz:
Criador e criaturas!
Deus, evidência invisível,
Mesmo até para o descrente.
Com Ele, tudo é possível;
Ele é Pai onipresente!
Nem mesmo uma folha morta
Cai sem a Sua vontade.
Ele é Pai que nos conforta
Quando houver necessidade.
Inteligência Suprema;
De tudo, a causa primária!
De Sua bondade extrema,
Nossa Fé é caudatária!
A nós, débeis criaturas,
Resta cumprir por deméritos,
Desta existência, as agruras
Que expiam erros pretéritos.
Ógui Lourenço Mauri
Catanduva SP, 02/06/2018
CARRINHO DE MÃO
Em menina meus sonhos abundavam
E cinderela até queria ser;
Nas ilusões crianças mergulhavam
Para criar histórias de prazer.
Menina-moça, anseios vicejavam
No azul do céu por sobre o meu querer;
Por entre estrelas líricas bailavam
Raios de um sol ansioso pra me ver.
Quem sabe, um dia, um príncipe chegasse
E em carruagem bonita me levasse
Fazendo rir meu triste coração?...
Adormeci, e o príncipe não veio.
Quem chegou foi somente um sapo feio
Saltando de um carrinho... ah... de mão!
Regina Coeli