CHIAROSCURO
Na casa dos avós,
réstias de sol nas frestas das treliças
anunciavam o nascer dos dias.
Broa de milho em fatias,
leite gordo dos currais
espantavam as preguiças matinais.
Na casa dos avós,
a luz bruxuleante das lamparinas
projetava nas paredes
equilibristas sem redes
e esguias bailarinas.
Na casa dos avós,
aprendi que vida é ambiguidade:
penumbra e claridade.
Wanderlino Teixeira
CRIAÇÃO
Esquiva-se do céu
mostra o corpo
denota o espectro
de luz e dor.
Contém o sonho
dorme com gnomos
mostra aos deuses
parte do rito.
Zeus o espera
etéreo pensar
de pássaros errantes
num mar derrotado.
Escombros e sombras
escombros?
Assombro de réus
tragando peçonha fé
fé?
Ligi@Tomarchio®
POEMINHA PARA FELIPE
Marina, Mariana!...
Camila, Beatriz!...
Venham depressa, meninas,
venham ver quem está aqui.
É o seu priminho Felipe,
irmão de Rafa e Gabi.
É tão lindo e pequenino!...
Cabeludo e vermelhinho!...
Nasceu com três e duzentos
e meio metro certinho.
A cor dos olhos? Não sei.
Inda é cedo pra dizer.
Uma enfermeira falou
que ele é muito educadinho.
E tem uma fome enorme!
O vovô diz, a sorrir,
que seu neto é um come-e-dorme.
Só quer mamar e dormir!...
A mãe é toda carinho.
O pai está orgulhoso.
E eu estou muito feliz!
Venham depressa, meninas:
Marina! Mariana! Camila! Beatriz!...
Neide Barros Rêgo
O LUGAR DE UMA SAUDADE
Vai a chuva indecisa,
Sobre as calçadas desliza
Veste o chão de branco véu.
Sacode-a um vento sul,
Desaparece o azul,
Já se fez escuro o céu.
A chuva nos traz lembranças,
Lava antigas esperanças,
Molha o pó da solidão.
Com seu vestido de prata
Em nossa rua pacata
Apaga os rastros do chão.
Este coração teimoso
Hoje também está chuvoso
Como há muito não se vê.
Estas águas aqui dentro
Vêm da nuvem do tormento
De perto não ter você.
Como alívio aqui me resta
De sua ausência apenas esta
Doce ilusão de esperar;
Só preencho de verdade
O lugar desta saudade
Com você no seu lugar.
Geraldo Generoso
MÃE, ESCUTA!
A ti eu não vim por concepção natural,
Nós somos mãe e filho por meios divinos.
Não houve entre nós o cordão umbilical,
A Força dos Céus acoplou nossos destinos.
Sou muito grato àquela que não conheci,
Mas eu quero que saibas, minha mãe querida:
Outro ser me deu à luz, e tu minha vida;
Todo meu coração reservo para ti.
O sangue que corre nas veias de meus filhos
Não é o mesmo que por teu corpo circula.
Essa verdade, porém, não traz empecilhos
Para o elo de amor forte que nos vincula.
Mãe, mesmo, é aquela que cria com carinho,
Mãe é quem dá proteção do berço ao altar.
Desde o início mostraste o melhor caminho;
Firme, para desta senda eu não me afastar.
Eu me sinto realizado, mãe, quando alguém
Comenta que me comporto à tua feição.
Preso a minha Fé, todavia, eu vou além:
Por Deus, eu sou fruto da tua formação.
Ógui Lourenço Mauri
(Nota: Adaptação do original "Minha mãe, um reencontro", de 01/05/2014, do mesmo autor).
APARIÇÃO
E no cair da meiga madrugada
Eu te senti em mim qual fora um beijo
Doce e pousado, em rútilo desejo
Do sol ao dar-se à lua apaixonada.
Uma emoção no escuro e ondulada
Em tênue cheiro, vívida e sem pejo,
Num consentir alerta a todo o ensejo
De se trazer à tona o amor, mais nada...
E foi assim... E quando a aurora veio,
Ornada pela luz e o rebuliço,
Já não havia no ar qualquer anseio.
E eu acordei. De tudo vi o sumiço.
Flor não nasceu daquele devaneio,
Mas do perfume alado fiz meu viço!
Regina Coeli