Poema dos olhos vagos
Nestes dias arredios,
quando os ventos sopram frios,
o mar se encapela,
as nuvens se fazem grossas,
nossas carências, olhos fitos nos vazios,
se debruçam na janela.
Wanderlino Teixeira
A FRESTA
A fresta filtra
O sol que infiltra
A luz diária.
A fresta é fenda
Na porta antiga
Que nos desvenda
A casa amiga...
A fresta é a entrada
Da folha morta,
A fresta é a porta
Da própria porta.
Geraldo Generoso
Reflexo
Embutido
nas entranhas
o envolver dos grãos
torna-se irresistível.
Argamassa
cristais
entulham o espelho
e o desespero domina.
Registra atento
angústias diárias
momentos dolorosos
rituais sangrentos.
Jorra horror
incólume
invólucro sem nácar
ausente
de pérolas errantes.
Torrente maligna
estigma
denota a rota
do colibri.
Esvoaçando desejos
o tornado destrói
os cacos
devolvidos ao ventre.
Ligi@Tomarchio®
POESIA
Poesia
não fujas de mim
espere
Meus pensamentos estão cheio
de trivialidades
de obrigações
atrapalhando
o meu poético.
Não fujas, espere um pouco.
Leda Mendes J. Aidar
A CARIDADE
Não existe caridade
Quando tu ajudas alguém
Pra exibir fraternidade
Do modo que não convém.
Não te desdobres jamais,
Nas ações de caridade,
Para, em gestos pontuais,
Te mostrar à sociedade.
Age de maneira tal
Que tua sinistra mão
Ignore a ação fraternal
Da destra para um irmão.
Não uses um ser carente
Para inflar tua vaidade.
É bom que tenhas em mente
O amor sem publicidade.
Os olhos do Pai Eterno,
E somente eles, então,
Devem ver o teu fraterno
Gesto rumo à salvação.
Ógui Lourenço Mauri
Catanduva SP, 09/07/2017.
Sons da Saudade
Fico surda aos sons de fora,
Só ouço o de um violão
Que vem chorar seus acordes
Bem rente ao meu coração,
Trespassando o meu presente
Com cordas de solidão...
Brotam meigas sensações
Que embotam os meus sentidos,
E eu me transformo em passado
Só com alma, sem ouvidos;
Explodo em muitas canções
E em suspiros já vertidos.
Meu pensamento se agita,
Busca em cada melodia
O Amor em seu esplendor
Na serenata de um dia
Que dormia no passado
E de cá não mais se ouvia...
O pensar tem suas asas
Que voam no relembrar,
Trazem junto o violino
E o seu choro só a chorar,
Chamando os sons do piano
Pras suas teclas teclar.
Eu me perco nas lembranças
Que guardam tanto de mim.
Eu recordo tons e sons
Mudos, chegados ao fim,
E lágrimas me despertam
Pro momento de onde eu vim...
Foi no som do violão
Que eu embarquei de verdade
Nas notas em dó mais ré,
Mi, fá, sol, si, sem idade,
E mais uma que aqui está,
O lá... chorando saudade...
Abro outra vez os sentidos,
Ouço um som bem mavioso:
É o sabiá-laranjeira
Pousado num galho, airoso,
Cantando hinos de amor
À vida e a um hoje mimoso!
Se no passado me enrosco
E me enlevo docemente
Na canção, no tom, na nota,
Lá está a alma da gente
Em forma de partitura
Que o sabiá lê sabiamente.
Regina Coeli
Cartas de alforria