Poesias de Janeiro de 2017



Solo de motosserra para um canto fúnebre



A velha árvore já não faz sombra nas horas de sol quente,
não mais abriga pássaros em seus galhos tortos.
Na fria pedra da calçada, jaz em toras,
integrada inteiramente à solidão dos mortos.


Wanderlino Teixeira


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ESCOLHA DOS CÉUS


Um imenso coração envolto em Luz
dá exemplos de amor e paz às nações;
o Brasil tornou-se, aos olhos de Jesus,
porta-voz de Suas sábias pregações.

Ao contrário de um possível privilégio,
recebemos dos Céus a ímpar missão
de aprender, de vivenciar sem sacrilégio;
de  mostrar ao mundo nosso amor cristão.

O país, com sua extensa geografia,
aproveita-a  muito bem na convivência;
benfazeja, tem seu povo em sintonia
com preceitos da Divina Providência.

Aqui tem brancos com dotes de Capela,
tem indígenas de índole simplória.
Há lições de moral da raça amarela;
tem os negros, sustentáculos da História.

Nação de comportamento varonil,
fortaleza moral do novo e do velho.
Querubins, numa só voz, cantam: "Brasil,
Coração do Mundo, Pátria do Evangelho!"


Ógui Lourenço Mauri
Catanduva SP, 23/11/2016.


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Antes de partir...


Se não te encantas por mais nada nesta vida,
Saiba que ainda não morreu a última rosa,
Apenas ocultou-se nas dobras do inverno,
Para aos beijos do sol, numa explosão de luz,
Ressurgir perfumando a primavera em flor.

Se agora a solidão mortifica a tua alma,
Pense ao menos ouvir a última canção
Que ainda não saiu do bojo de tua lira;
Adie o quanto possas a hora da partida.
O passaredo em bando ainda não ensaiou
O último gorjeio para o entardecer.

Se pesadelos sobre ti se desabaram,
Destroçando esperanças por acontecer,
Espera só um pouco mais, dê um tempo ao sol
Pra trazer nova aurora do seio da noite
Sobre o colo azul do céu inteiramente novo.
Não pense hoje em ir embora deste mundo,
Antes que nos jardins todas rosas floresçam,

Antes que a imensa orquestra  de que é feita a vida
Te enseje ouvir então seus últimos acordes!
Fique mais um pouco, não deixe este cenário,
Antes que o derradeiro pássaro da tarde
Venha pousar as suas asas em gorjeios
Sobre o último galho do último silêncio!
Não vá embora ! Não vá embora ! Não vá embora
Antes que todos  os teus sonhos aconteçam.


Geraldo Generoso


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DISFARCE


Na superfície
sou água tranqüila, pareço tão calma,
tão serena...
Mas aqui dentro, no abismo de mim,
escondo o que sinto, oculto o que sou.
Disfarço, sorrio, minto.

Sou tumulto, mar revolto,
tempestade, vendaval.
Sou embarcação perdida
em bravio temporal.

Não sou santa, sou megera.
Fera presa, sou pantera.

Ansiedade e agonia, sou saudade.
Sou ciúme, sou desejo, sou paixão.
Sou fogueira que incendeia.
Ardo, mas me guardo.
Quero, sofro e me acovardo.
Sufoco minha emoção.

E aperto meu peito,
e corro pro quarto,
e calo meu grito.
Me atiro no leito,
me deito de bruços
e desato em soluços
até dormir de cansaço.

E amanheço tão doída,
amargurada, encolhida
como louca, enrodilhada
nas curvas do meu abraço.


Neide Barros Rêgo



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SONETO DA LIBERTAÇÃO


Cada dia que passa, mais eu "desafino
o coro dos contentes", dos alienados.
Não hei de colocar em fôrmas meu destino,
não desejo normas, caminhos já traçados.

No lugar da razão, eu ponho o desatino
de um viver sem controle, sempre apaixonado.
Mais rico o improviso do jazz que qualquer hino.
Prefiro um não real a um sim bem-educado.

Calma seria a cama feita, a mesa posta,
faca e queijo na mão, na boca uma resposta
que calasse no peito a dúvida e o conflito;

porém, em vez de aceitação, me explode o grito.
A única verdade em que ainda acredito:
ser tudo um desafio e a vida uma proposta.


Lena Jesus Pontes
em: "O Corpo da Poesia"


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A LAMA


A chuva cai,
O pensamento se esvai
em lamentos e suspiros,
sucessivos, intermináveis...

Quanta melancolia há
nesse clima triste,
onde o som da chuva
nos embala e desampara...

Que pureza há nessa água,
cai sem timidez, pura e cristalina.
Pena que entrando em contato com a terra,
perca toda sua beleza tornando-se lama...

Pensando bem,
a lama também é bela e necessária,
assim como a chuva
que alimenta a terra...

Quantas belas obras de arte,
esculturas, até coisas,
foram e são feitas
com a lama, enfim...

Jamais podemos desdenhar
as coisas da natureza,
tudo tem sua razão para existir,
é belo e necessário!...


Lígia Tomarchio


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Entrar no céu sonhando

MOTE:

Sei que, deste mundo lindo,
vou sair, só não sei quando,
mas quero morrer dormindo
para entrar no céu sonhando.

José Lucas de Barros

GLOSA:

Sei que, deste mundo lindo,
o meu tempo está escasso,
mas continuo sorrindo...
Sou feliz, por onde passo.

Tenho sim, plena certeza,
vou sair, só não sei quando,
vou deixar esta beleza:
o mundo, que estou amando!

Dias e noites, vão indo,
e a morte ronda por perto...
Mas quero morrer dormindo,
morrerei feliz, por certo!

Vou dormir, tal qual criança,
mil sonhos acalentando,
não perderei a esperança...
Para entrar no céu sonhando.

Gislaine Canales

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Terra Natal


Para mim não há lugar
como minha cidadezinha,
onde costumava madrugar
para na igreja ser coroinha.

Ipameri, no Sudeste Goiano,
 é meu dileto refúgio sagrado,
aprendi a amá-la no cotidiano
de menino feliz e bem regrado.

Recordo minhas aventuras
na linda Praça da Liberdade,
dos namoros e suas venturas,
do que chamamos de felicidade.

Em nossa casa pequena
o Natal era alegre e santo,
por isto a lembrança serena
deste município que amo tanto.


Lupércio Mundim


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COMO NUM SONHO...


Em pleno dia, à luz do sol a pino,
Eu varro o meu quintal de folhas tantas,
Converso com a vassoura em horas santas
Do meu labor em notas, feito um hino.

Digo a ela: "— De um tempo bem menino
Eu te conheço, e tu me encantas
Quando, serena, o que caiu das plantas
Varres em ato diário e peregrino.

Aqui um pouco... Mais folhinhas lá...
E de repente nada mais existe
Com bom auxílio vindo de uma pá.

Como num sonho, o que houve ora inexiste,
Mas amanhã a folha cairá
E voltaremos, porque o sonho insiste.”


Regina Coeli


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ANJO OU DEMÔNIO


Perfeitas as faces do bem e do mal.
Verdades e verdades
se mesclam na mesma cor:
ódio e amor.
Ambos se equiparam
e não mais apontam diferenças.
Argumentam com profundidade socrática,
pintam seus desejos em tons vibrantes
esfumaçados pelas espátulas precisas
de mãos seguras e confiantes.

Cantam seus cantos
com a maestria de um tenor
onde anjos e demônios
têm a mesma força
e, por tal, confundem-se
no emaranhado conceito de valores
tragados, de muito,
pela ânsia do poder total.
Bem ou Mal?

Títeres
no espetáculo da vida,
cabeças indecisas
rolam por atos inconseqüentes,
aplaudidos pela turba
que se regozija num brinde
insano e radical.

E a verdade abraçada,
destravadas as vendas da justiça,
parece recoberta de brilho carmim.
Sapateiam sobre corpos nus
os senhores da guerra,
envoltos pelo manto
de uma santidade aparente,
clamando pelos louros da vitória.

Os poucos
que ainda conseguem perceber
o terrível engodo universal
hibernam em suas paredes de fé,
abraçam-se às parcas esperanças,
perdem-se no pecado da omissão,
cegos e confiantes em falsos deuses,
fracos e tolerantes, inertes, terminais
ante os vícios que se fizeram sociais.

Eis o homem,
fantoche enjaulado
em seus perdidos sonhos de paz.


Cleide Canton

SP, 04/08/2008 - 17:00 horas



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