Poema pré-eleitoral
Ante os olhos de quem passa,
impressas no pano que esvoaça,
faces sorridentes, dentes claros e perfeitos.
Têm olhares baços os donos dos braços
que agitam bandeiras e ouvem promessas
dos que almejam ser eleitos.
Quatro anos decorridos,
à mercê das artimanhas,
da mesma cantilena em seus ouvidos,
os donos desses braços, os de olhares baços,
agitarão bandeiras novamente
no engodo permanente das campanhas.
Wanderlino Teixeira
REFERENCIAL
Esperando, esperando a noite passa;
Vem outro dia, outra noite vem,
Dentro do dia e da noite tem
Uma esperança que se esvoaça.
E à espera, sempre à espera deste alguém,
A vida corre sem sabor nem graça,
Olhando para o tempo que perpassa,
Sinto que em vão espero por ninguém.
Passou o tempo de flor da primavera,
Passam e repassam transeuntes na calçada,
Vejo passar a vida, e eu à espera.
Entre as ilusões, a mais amada,
Ficou na saudade que me desespera,
Foi tudo que esperei dentro do nada.
Geraldo Generoso
MENSAGEM
Navegam lembranças
ondulando mensagens
nas marés
a lua testemunha
estrelas indicam o rumo
sem bússola, desnorteadas.
O amor espuma
resume em poucas letras
rabisca um mapa
pede socorro
horror da solidão?
Descreve a paisagem
Suave entardecer breve
entreabre o vão
na memória do autor
retorna encharcada de dor
às areias da eternidade.
Ligi@Tomarchio
Colagem
Um punhado de cabelos no seu vento
e coxas rodadas. Cigarros mal pisados murcham tocos.
Passam recortes de pessoas fortes, passam coortes
de soldados rasos cabeça de papel.
Há risadas quentes nos seus dentes rentes
que prendem a língua gulosa num quartel.
Um punhado de vento nas suas folhas de cabelos
revoltos. Em revoo passam pássaros sem penas e dores.
Os ternos se abraçam. Os ternos passam
a passos largos pro escritório.
O mundo se enche nesta tarde.
As bochechas generosas de Deus inflando a bola enorme.
O céu estica fino e o sopro é morno.
A sombra cochila debaixo do banco da praça.
Em cima o pobre dorme de graça.
Um punhado de vida neste mundo
de punhos amarrados.
Lena Jesus Ponte
AMAR-TE EM POESIA!
Face a detalhes adversos
E a entraves do dia a dia,
Preciso apelar pros versos
E assim te amar em poesia!
Meus versos são lenitivos
À falta de teu calor,
Mantêm instintos ativos
Por conta de nosso amor.
Amar-te em poesia, sim;
Abrir para ti meu peito!
Trazer tua imagem pra mim
E envolvê-la do meu jeito!
Musa és de meus poemas
Instados pela distância.
De ti, vêm todos os temas
E paixão em abundância.
Os doces versos saindo,
Dão-me vida afortunada.
Amar-te em poesia é lindo,
Antes isso do que nada!
Ógui Lourenço Mauri
Catanduva SP, 27/04/2016.
RUINAS
Calculei mal
os alicerces de minha casa
Ergui
paredes de sonhos
abri janelas que deixassem
entrar com o sol
venturas douradas
Abri portas por onde entrasse a paz
E tudo ruiu
Apenas eu permaneci de pé
Leda Mendes Jorge
ABRAÇO DO INFINITO
Tu sabes que eu não me canso
de olhar estrelas cadentes.
Voam meus sonhos com elas
para mundos diferentes.
Estrelas são naus errantes
sem rota pre-definida.
São faíscas oscilantes
do meu céu em avenida.
No centro delas me sinto
passageiro sem destino,
encantado e mui faminto,
sem chefia, um interino.
E me beija o vento norte
e me guia a lua cheia.
Brindo a vida, bebo a sorte
deste amor que me incendeia.
E no abraço do infinito,
eu te vejo terno e meu.
Era certo, estava escrito:
Meu amor é todo teu!
Cleide Canton
LEVEZA
O que fui, não mais eu sou
Num hoje que temperou
O eterno vaivém do mar
A quem contei meus desejos,
A quem entreguei mil beijos
Nas ondas dos realejos
Musicando o meu cantar.
Os pesos que carreguei
Na terra sem prumo e lei,
Hoje não carrego mais,
Que é Tempo de ser feliz
Num passo ainda aprendiz
Seguindo o sábio que diz
Que a Vida recende a Paz.
Se lágrimas eu calei
E outras tantas derramei
Querendo apenas amar,
Eu amei, mas tanto, tanto,
Que de amar ainda me encanto
E faço desse meu canto
Arrimo pra me escorar.
Dos meus sonhos tão puídos
Fiz versos agradecidos
Regados a fantasia,
E a realidade matreira,
Que se finge verdadeira,
Deixei-a de lado, à beira
Dos barrancos de agonia.
Braços livremente abertos,
Sentidos mais que despertos
Pra abraçar o que vier,
No mar navego serena
Em minha nau tão pequena,
Ouvindo a brisa tão plena
Segredar-me o que quiser.
O peso que me pesou
Foi o que me resgatou
Neste final de viver:
Aprendendo a suportar,
Meu troféu é caminhar
Olhando o céu e o luar
Rumo a um novo alvorecer...
Regina Coeli