Nevoeiro
Uma sombra singra em meio à névoa espessa
e passa pela barra em direção ao porto.
Absorto, também navego em brumas.
Refém de algumas,
aponto o sextante para o subterfúgio
e assim evito o naufrágio.
Wanderlino Teixeira
Estribilho
Sol a pino acena a seca
Lá na lagoa o sapo coaxa
Lavrador constrói a cerca
Lavadeira lava a colcha
O lenhador decepa a acha.
Tarde tarda, mas não falha
Noite é feita pra folia
Água fresca está na talha
Peixe que foge da malha
É fisgado um outro dia.
O trem só anda no trilho
Mede-se o alqueire com a trena
Ouro novo tem mais brilho
E estrofe com estribilho
Repete o trecho da cena.
Menina que usa decote
Querendo mostrar o colo
Está mais sujeita ao bote
Quem tem sede vai ao pote
E a presa acaba no solo.
Toda noite sempre encanta
Quando tem lindo luar
Passarinho que não canta
Nunca consegue encantar.
E eu fico aqui no meu canto
Louquinho pra lhe falar:
Deixe-me enxugar o pranto
No calor que vem do encanto
Do fogo do seu olhar...
Antonio Manoel Abreu Sardenberg
São Fidélis "Cidade Poema"
ENTRAR NO CÉU SONHANDO
TROVA:
Sei que, deste mundo lindo,
vou sair, só não sei quando,
mas quero morrer dormindo
para entrar no céu sonhando.
José Lucas de Barros
GLOSA:
Sei que, deste mundo lindo,
o meu tempo está escasso,
mas continuo sorrindo...
Sou feliz, por onde passo.
Tenho sim, plena certeza,
vou sair, só não sei quando,
vou deixar esta beleza:
o mundo, que estou amando!
Dias e noites, vão indo,
e a morte ronda por perto...
Mas quero morrer dormindo,
morrerei feliz, por certo!
Vou dormir, tal qual criança,
mil sonhos acalentando,
não perderei a esperança...
Para entrar no céu sonhando.
Gislaine Canales
Palavras
Quantas vezes
as palavras fogem
Não cabem vírgulas
nem acentos
Ideias se vão
assustadas
com tropeços do caminho
Essas palavras ardem
feito gengibre na língua
e não as desenho
na infinita presença
dos desejados sentidos
Leda Mendes Jorge Aidar
FLOR DA TRISTEZA
Quanta melancolia degustei
osfrésica que sou,
todos odores da tristeza senti
pensei que fossem flores...
Rasgado coração
sem esperança de um grão apenas
da semente da alegria
chorava em vão
lágrimas de sangue.
Abissal futuro insano
da terra levarei nem o nome
apenas escaravelhos irão me reconhecer
saboreando minha derrota.
Devotada insanidade do poeta
escreve as palavras sem entendê-las
ou as percebe absurdas
e persiste na solidão do anonimato.
Não vou falar de amor e salvação
procurar ainda é o sonho
no inconsciente já cônscio
desdenha os saberes da alma
procura os mistérios do ser.
Ligi@Tomarchio®
IDÍLIO EM PROPAROXÍTONAS
Teu olhar tão emblemático,
Ao cruzar meu foco ótico,
Conseguiu deixar-me estático,
Preso a teu elã exótico.
Não senti qualquer obstáculo,
Nada que me fosse trágico;
Caí fácil no espetáculo
Vindo dum par d'olhos mágico.
Ao contrário duma excêntrica,
Irradiavas tua mística;
Jovial e egocêntrica,
Com toda a característica!
Do nada, fiquei eufórico
Com tal encontro frenético;
Foi início de um histórico
Sem um "antes" cibernético.
Segue com elos prolíficos
Nosso enlace tão autêntico...
De propósitos magníficos,
Meu amor, ao teu, é idêntico!
Ógui Lourenço Mauri
Catanduva (SP), 10/04/2016.
SOLUÇO
Mesmo longe de ti, sempre presente,
Entre as belas lembranças, a mais linda,
Revivo a ilusão de antigamente
Que até parece eterna e não se finda.
És o benfazejo sonho que cultivo,
Bem lá no fundo d'alma em que se esconde,
Que vem não sei de quando nem de onde
E me faz tanto bem quando o revivo!
Mesmo perto não estando não me esqueço,
Desta velha paixão que é sempre nova;
Por amar de verdade não padeço
A tentação, desse querer, a prova.
Quando acaso um soluço te surpreenda,
Na tua solidão em hora qualquer,
Hás de saber, e quero que entendas:
Sou eu, pensando em ti, onde eu estiver.
Geraldo Generoso
ANIVERSÁRIOS
27/7/1926 - Diamantino Ferreira
27/7/1965 - Carlos Eduardo Canalles Bonatto
Vinte e sete de julho, vens surgindo,
a passos largos, para anunciar:
Evento duplo, certamente lindo,
em dois Estados, pra comemorar!
Diamantino e Carlos, vêm sorrindo
e querem, um ao outro, abraçar
e dizer, entre si: _Sejas bem-vindo!
Vamos juntos, colega, festejar!
E a natureza inteira se engalana
e o jovem e o ancião vão ao nirvana
para atingirem a Felicidade!
E eu, mãe e amiga, rezo pelos dois,
pois antevejo, um dia, bem depois,
o nascimento triplo da Amizade!
Delcy Canalles
VALE DA SOLIDÃO
No sil êncio do nada
Meu ser anulado
sem cores e timbres
se depara com o esperado
Nos caminhos incertos
por mim (in)conscientemente plantados
não vejo mais sequer
o mapa de meus passos dados
Quão triste uma alma
sem certezas de seu ser
Mais uma vez se cala
Sem nem eu mesmo saber o porquê
Nesta hora ímpar
De escuridão e temor
Nem mesmo o espelho
De minha face opaca
Suporta o dissabor
Reconheço minha solidão
E no cruzar deste vale sem nome
Percebo em meu interior
O Quão vil foi meu amor
No fim de todo este sentir
por mais que doa o coração
Reconheço que nesta vida
O título maior é a Solidão!
Raymundo N. Stelling Jr.
EM SENDO ASSIM..
Em sendo assim, deponho minha espada.
Recolho meus tropeços mas não choro.
Meus ais não se ouvirão nem eu imploro
por chuvas de verão na minha estrada.
A lenda que criei foi apagada
e o canto que eu não canto é mais sonoro.
Os versos qu'inda faço e não decoro
valseiam numa página virada.
Minhas mãos que aplaudiam, sem cessar
cada nuvem que pairava sobre o mar,
descansam nesta fase vespertina.
Mas o olhar ainda brilha de esperança
ao ouvir um sorriso de criança
em meio à multidão que desafina.
Cleide Canton
São Carlos, 17/07/20016
Desflorando
Minha boca vermelha qual cereja
Despertava-te anseios de rapaz
Num querer sempre, sempre, e sempre mais,
Muito mais do que o mais que se deseja.
Minha boca, serena, a um beijo almeja
Ainda hoje, que amar me satisfaz,
Mas fui barco atracando num jamais
E aquilo que não foi, talvez não seja.
Ao te beijar, beijavas outro alguém,
Só no meu sonho eu era tua rainha;
Somente em sonho eras o meu bem...
Desflorei-me no tempo, tão sozinha,
E desfolhei tua boca, que também
No meu sonho, sonhei, foi sempre minha...
Regina Coeli