Simplesmente
Quisera ser poeira,
goiabeira de fundo de quintal,
inseto, nota musical, semente.
Quisera não ser pensante,
mas água de fonte, ponte, pássaro, peixe,
feixe de lenha, espiga no paiol, grão de arroz,
veio d´água em vez de rio.
Quisera ignorar a finitude.
Quisera estar alheio à inquietude do depois.
Wanderlino Teixeira
CARNAVAL
Carnaval de idéias
místicas tradições culturais remotas
carrosséis turbinados tecnológicos
nada lembra o passado.
História perdida no baú do esquecimento
passistas, porta-bandeiras, baianas,
baterias, alas de frente,
desfilam a falta da tradição perdida.
Sem mérito, moral, todos pagãos
reinventam a grande festa afro-brasileira
visitada por vários mundos distantes
fascinados pela sensualidade tropical.
Exibem aos forasteiros alucinados
estridentes sons e gestos sensuais
fantasias de anjos, deuses, animais
versejam cantos exóticos
perseveram no seu intento de entreter.
Um povo carente de educação e cultura
onde a fome, o tráfico e a impunidade imperam
financiados pelos donos do Brasil
expõem seus destaques seminus.
Sobre alegorias flutuantes milionárias
frenéticos corpos sedentos de sexo
dançam, rebolam, estrebucham
com a ausência de justiça social e igualdade de direitos.
Revolta minha envolta de espanto
vendo tanta dor e miséria periférica
vejo apenas mascarados qual bandidos
ladrões da dignidade e da poesia.
Com trabalho o ano inteiro
muitos sobrevivem da festividade pagã.
Pessoas religiosas, famílias unidas
na costura desses fardos da sociedade decadente.
Reflexos podem ser vistos
nos periódicos jornalísticos
do exibicionismo pernicioso
das rainhas e reis do Carnaval.
Súditos encharcados e bêbados
acometidos de loucura oportunista
digladiam-se por uma chance
de ao menos por alguns instantes
participarem de blocos fantasiados de alegria.
Sentem-se assim, menos miseráveis
e até cidadãos da pátria mãe gentil
entregue aos estrangeiros da guerra.
Pactuar com essa Babel
retroceder às medievais barbáries
não fará de mim alguém mais feliz...
Apenas uma brasileira envergonhada
pelas injustiças da pirâmide social
onde todos desmoronam
a cada quarta-feira de cinzas...
Ligi@Tomarchio®
22/02/2003
MONÓLOGO DA DESINTEGRAÇÃO
Sempre disseste que és meu amigo
e que entendes, em toda a profundeza,
esta imensa tristeza,
que trago comigo !
Talvez, por isto, eu sinta, hoje,
esta necessidade estranha,
esta necessidade tamanha
de falar contigo,
de dialogar,
desabafar,
de explodir,
de chorar!
E é em meio a este desespero,
que eu quero,
que eu espero,
que eu imploro,
quase em choro,
que me ouças,
que compreendas,
que escutes
e que entendas
esta catarse sem peias,
que eu sinto correr nas veias,
buscando liberação,
p'ra esta angústia incontida,
p'ra esta tristeza sentida,
que oprime meu coração!
Tu, que estudaste o átomo,
em sua contextura,
elementos, dimensão,
ajuda-me a descobrir a essência
_qual estudioso da ciência _
do que é desintegração!
Não da matéria bruta, inanimada,
mas da matéria viva,
orgânica, humanizada!
Não podes me ajudar?
Eu já sabia!
Eu sentia! Eu temia! Eu previa!
É que as leis, que os cientistas formularam,
se aplicam à matéria inerte, fria!
Por isso, tens de calar!
Mas eu não. Eu quero falar!
Quero contar-te, agora, o meu exemplo,
como se eu me confessasse a ti,
num grandioso e extraordinário templo,
onde serias tu, amigo, o confessor,
e eu, aquele que busca,
busca, em ti, um consolo pra dor!
Imagina um ser humano machucado pela vida,
arranhado pelo destino,
violentado em sua própria alma,
afastado da pessoa que mais ama,
privado de descanso, paz, sossego e calma!
E se isso, meu amigo, não bastasse,
jogassem, contra ele, uma bomba fantástica,
da maneira mais drástica,
como aquela que abateu Hiroshima
e, não, apenas, matou,
mas destruiu, desintegrou,
tornou aquela terra, dantes, tão povoada,
um vazio de vidas,
um deserto de nadas!
Tu ris? – Eu acabo de ver!
E tens razão de rir,
pois não chegaste a entender
o que eu quis te dizer!
E, então, como tu, eu também rio:
Ah! Ah! Ah!
Mas o meu riso é triste, é desolado,
é um riso nervoso, é um riso aparvalhado,
é um riso falso de tristeza e dor!
É um mecanismo. Entendes?
– De defesa!
É formação reativa
do meu estado interior!
Tu choras, amigo meu?
Choremos juntos, então!
Enfim, tu compreendeste
o que é desintegração!
Esse alguém, de triste fado,
que um dia,
há muito, nasceu!
Hoje, desintegrado,
ainda existe :
– Sou Eu!!!
Delcy Canalles
SEM
MOTE:
Sem tentar – não há fracassos.
Sem ter fé – não há profetas.
Sem sorrir – não há palhaços.
Sem sofrer-não há poetas!
Miguel Russowsky
GLOSA:
Sem tentar – não há fracassos
devemos ter a coragem
de dar sempre novos passos
e seguir nossa viagem.
Fé remove uma montanha.
Sem ter fé – não há profetas.
a oração nos acompanha
para atingir novas metas.
São alegria os abraços,
faz muito bem um sorriso.
Sem sorrir – não há palhaços
fica triste o paraíso.
Escrever mata as saudades..
Há muitas dores secretas.
Sorrir... chorar...dubiedades...
Sem sofrer – não há poetas.
Gislane Canalles
DANÇA NA PENUMBRA
Entre quatro paredes, na penumbra;
Juntos na tão sonhada pista, enfim.
Teus contornos justapostos a mim,
A felicidade que se vislumbra!
A música é só nossa, aconchegante...
E, dançando, vejo-te mais bonita.
Colado ao teu, meu coração palpita;
Marcam, juntos, batida unissonante.
Rostos colados, falando baixinho,
Com a música a tanger no ambiente,
Sinto-me à mercê do clima envolvente,
Desmanchando-me em te fazer carinho.
Na dança lenta, nossas confidências...
Tua voz rouca a aliciar meu ouvido.
Teus passos, quando mudam o sentido,
Tocam de leve minhas saliências.
Quero bailar até de manhãzinha,
Estou encantado com tua dança.
Há clima de amor gerando esperança
De que para sempre tu serás minha.
Ógui Lourenço Mauri
Catanduva (SP), 16/09/2009
O CALOR DO SENTIR
Passem os dias, mudem as estações,
O sol é sempre a luz empedernida
A consolar a dor de uma ferida
Ajoelhada no altar das emoções.
Pintando em ouro a tez dos corações,
É sangue o sol nas veias desta Vida,
Perpassa a nubla cor da despedida
E volta em renovadas sensações.
Aceno ao sol no dia que se finda,
Deleito-me com a lua que já vem
Prateando um palpitar em mim ainda:
Sentir o amor é um bem que a gente tem.
Amar a Natureza, que é tão linda,
É o sol pulsando, amando-nos também.
Regina Coeli
SONHOS DESFALECIDOS
Onde encontrarei, meu Deus,
ouvidos para meus sonhos invernais,
tão distantes dos normais,
tão fora do contexto temporal,
incidentes num mundo ocasional?
Já não sinto gloriosa a demanda
mutilada, desacreditada e claudicante,
porque falso é o dia de sol,
incerto o vento cantante
que outrora levava ao norte
augúrios de boa sorte.
Inerte, visto a honra, a dignidade,
visto a parca esperança
que se debate em suspiros frouxos,
já quase moribunda
na chama fraca da justiça humana,
tão massacrada e vilipendiada,
extorquida e esquartejada,
mostrando o luto que a envolveu
por obra de outros como eu.
Ah! Deus meu!
Perdoa este momento de fraqueza,
estas palavras encharcadas de rudeza,
esta vergonha que me cobre,
esta certeza de quase nada ter feito,
esta dor que não me sai do peito.
A voz já alquebrada e rouca
ainda tenta gritar
para a platéia muda,
(talvez a julgar-me louca)
que não percebe
que perdeu-se pelo caminho,
que permitiu-se guiar
por mãos inescrupulosas,
que deixou-se contaminar
pelo joio da glória do individualismo,
que esqueceu sua prudência
e desprezou a própria consciência
quando não valorizou a sua História,
quando desrespeitou
as regras da própria natureza
e entregou-se às garras da correnteza
que a carrega a abismos vazios
neste mundo onde jazem os brios.
Perdoa-me, Senhor!
Já nem mais sei se sou digna
de implorar o teu penhor!
Cleide Canton