Mosaico
No banco da praça,
o bebê e a bengala dividem espaço.
Ao compasso do balanço,
a criança de tranças embala esperanças.
De braço dado com a preguiça,
um gato passa sem pressa.
A moça de olhos tristonhos
alinhava retalhos de antigos sonhos.
Garças espetam pernas no lodo do lago.
Um homem se nega a ler desgraças,
relega o matutino ao abandono.
Só a piaçava não assume o aconchego:
atiça folhas esparsas,
espicaça o sossego da manhã de outono.
Wanderlino Teixeira
DOCE SAUDADE
Quando leio teus versos tão sensuais,
Com pitadas de uma fêmea provocante,
Sou tomado do impulso de querer mais,
Ganas de eu estar contigo a todo instante.
Uma doce saudade me vem à mente,
Recordações fazem meu sangue ferver.
Frustrado, vejo que não estás presente
E que tudo que eu quero não pode ser.
Vem-me à lembrança nossa alcova de amor,
De quando nos encontramos, afinal.
Paixões incontidas no seu esplendor,
Enlevos a dois, numa entrega total.
Doce saudade de teu lindo sorriso,
De teus cabelos sedosos, cor de mel;
Detalhes que afetam meu frágil juízo,
Que não suporta esta distância cruel.
Dependente, hoje sou de tua poesia;
Ela é a fonte desta doce saudade.
Sentimento que se aflora a cada dia,
Num sonho só, preso na felicidade.
Ógui Lourenço Mauri
Catanduva (SP), 03 de julho de 2010.
FLAUTA
Mágica, solene
flauta penetrante
ousa lângüida
na fundura do ser
realizar sonhos celestiais
transcende, carregada de paz
saltitando sons universais
perenes, imortal
deleite dos deuses
prazer do cosmo que a sente.
Seu brilho reluz anseios
requer saber ouvir
retém o fôlego fugaz
do ser em êxtase
refletindo emoções contidas
desnudando egos reprimidos.
Flauta solene e mágica
traga a paz
devolva esperança
conserve sabedoria.
Mágica, lângüida e fugaz
troveje pela última vez
ilumine com relâmpagos
o âmago inocente
carente, sedento de poesia.
Ligi@Tomarchio®
DRAMAS
Mote:
Respeita as dores e anseios
na igualdade que proclamas
e vê que os dramas alheios
são dos outros...mas são dramas!
Arlindo Tadeu Hagen
Glosa:
Respeita as dores e anseios
dos que sofrem por maldade,
não aumentes seus receios,
reparta a felicidade!
Segue sempre as normas certas
na igualdade que proclamas
não dês avisos de alertas
somente para quem amas!
Reparte da fé, os esteios,
todos nós somos irmãos,
e vê que os dramas alheios
são graves e não são vãos!
Distribui mais alegrias,
se bondade tu derramas,
esses dramas que alivias,
são dos outros...mas são dramas!
Gislaine Canalles
GRATIDÃO
Disseste que meu nome é doce e que seduz,
que ele é nome bendito, enleva e tem primor.
Fizeste-me feliz, poeta sedutor,
e me elevaste ao céu, qual um astro de luz.
É meu nome de estrela? Ele fulge e reluz?
De infinita beleza e de raro fulgor,
teu soneto me faz viver sonhos de amor,
de inefável prazer entre enlevos a flux.
Comparaste o meu nome ao nome de uma santa?!...
É carinho demais! É ternura que encanta.
É sublime emoção. Tais louvores eu hei de
abrigar, jubilosa, em meus sonhos mais tersos.
Com que ardor exaltaste o meu nome em teus versos!...
Mais ditosa eu fiquei por meu nome ser Neide.
Neide Barros Rêgo
para o poeta Francisco dos Santos, de Ouca, Vagos, Portugal (1996).
ASSIM, ASSIM...
Despeço-me deste canto, assim,
com um adeus de quem perdeu
a parte encantada de mim...
Assim, como quem se escondeu
para não ter que ensaiar um fim.
Despeço-me assim, descrente,
meio anseio, meio tormento,
sem qualquer dor aparente,
sem tese, sem argumento...
Simplesmente indiferente.
Despeço-me de ti neste agora
em que a vontade é gritante
mas o peito apenas chora...
O sorriso é sempre farsante
e o olhar, de repente, implora.
Cleide Canton
Sol Poente
Quando contemplo ao longe o sol poente
atrás do monte lá no infinito
sonho acordado o sonho mais bonito,
e tenho a fé de um homem forte e crente.
A luz suave, quase se apagando,
acende em mim um fogo tão ardente,
e ao pensar eu fico imaginando
o amor se pondo assim tão de repente.
O tempo passa e vem a madrugada
como um açoite castigando a gente
na aurora fria, escura e tão calada!
Oh... breve tempo tenha dó de mim
por que flagela um coração carente,
me machucando tanto, tanto, assim!
Antonio Manoel Abreu Sardenberg
VESTIDO DE BABADO
Já fui Maria Bonita,
Vesti vestido de chita
Pra esperar o meu amor
Num jardim cheirando a flor.
Era um vestido enfeitado
De flores e de babado
Com uma saia bem rodada
E eu, bem no meio encantada!
Leio de alguém os tremores
Ardendo em chita os amores
Que a consagraram mulher
Nas ânsias que o corpo quer...
Espio alguém na vereda,
Sedoso corpo de seda
Dentro de um pano qualquer
Vestindo feliz mulher...
Arrematando a costura,
Outro alguém em sua ternura
Veste um dengoso rendado
Pra esperar o seu amado...
Nas lembranças, rodopio.
Ao lembrar, eu me arrepio...
Meu amor nunca chegou.
Meu vestido? Amarelou.
Regina Coeli
Pai
Aconselhe-me novamente,
o que devo fazer nesta hora,
quero ouvi-lo dizer suavemente
que tudo em nossa vida melhora...
Fale que preciso ter calma,
aguardar os acontecimentos,
que se tiver paz em minha alma
minha vida terá melhores momentos.
Porque não está fácil viver
sem ouvir sua voz tão serena,
do elevado lugar em que estiver
ajude a confortar sua família terrena.
Que seu espírito voe alto,
livre das amarras deste mundo,
mas não se esqueça deste planalto
onde ficou o seu vínculo mais profundo.
Lupércio Mundim
Goiânia, 07/01/2015 – 22:44