Poesias de Novembro de 2014

MARCAS


Chorei ao ver a jarra de cristal,
tão bela, e clara, e rica de lavores,
plena de rosas de diversas cores
ser quebrada num ímpeto brutal.

Também ao ser humano é bem normal
sofrer não raros golpes, mágoas, dores,
ingratidões, tristezas, dissabores,
que ferem fundo e causam tanto mal.

E, pela vida afora, os infelizes
trazem consigo marcas, cicatrizes,
bem escondidas dentro do seu peito.

Permanecendo lá por toda a vida,
tal qual a jarra de cristal partida,
hão de ficar as marcas do defeito.


Neide Barros Rêgo





Desencontro


Acordei com saudade de mim mesmo.
Para não ficar vagando a esmo,
eu me propus a imitar os monges:
meditar e futucar meus longes.
Eis, porém, que fracassei:
naqueles que já fui não me encontrei.


Wanderlino Teixeira





CONCRETA



Sou poeta não muito poética
concreta e realista
concretista e real.

Faço versos calados e mudo
a qualquer espaço o lugar
do sonho e sentimento.

Escrevo o crivo do que sou
deixo marcas se não fui
desejo tudo e nada dou.

Espalho o caos em detrimento do bem
amo o inimigo a me odiar
desdenho a rima, ritmo e métrica.

Quero assim continuar a ver o mundo
sem preconceito ou temor
desrespeito qualquer regra imposta
postulo ser nada para me descobrir.


Ligi@Tomarchio®





Toada para um amigo


Pela vida, o cantador
toca a boiada dos sonhos,
deixando para trás, tristonho,
pastos de mágoa e de dor.

Geme, em dó, o carro de boi.
E o peito do sonhador
chora o pó do que se foi,
pisa o pé sobre o desfeito.

Por cima, a lua madrinha,
por baixo, o fim e o começo.
Não se importa com tropeços
quem faz da vida um caminho.

Pela frente a caminhada...
Passa boi, passa boiada...
Amigo, toca a alegria
de ter sempre o pé na estrada
e na boca, a cantoria.


Lena Jesus Ponte
(em "O Corpo da Poesia")





LUA CHEIA, A DO BRASIL!


Meu Brasil tropical vive esta luta,
"Brilho do sol versus clarão da lua".
Entendo que a noite ganha a disputa,
é o que a massa romântica insinua.

Como é lindo o luar de minha terra
nas noites de brisa primaveril!
Lua cheia em seu esplendor encerra
toda a magia dos céus do Brasil!

Encanta-me o panorama estelar,
de lua cheia fazendo clarão;
passo muitas horas a contemplar
tal obra divina na imensidão.

Chego ao êxtase com tanta beleza
das noites de celestial aquarela.
Sem a luz do sol, vejo a natureza
sob lua cheia, alumbrada por ela.

Lua cheia, no Brasil, traz saudade,
emoção que só nosso idioma explica.
Machuca o coração de quem se evade
e estilhaça o coração de quem fica.


Ógui Lourenço Mauri

Catanduva (SP), 24/10/2014





O BEIJO NO RETRATO

MOTE:

Vendo o beijo no retrato
ainda sinto o sabor
daquele beijo abstrato
que eternizou nosso amor!

Hélio de Almeida – Caicó

GLOSA:

Vendo o beijo no retrato
meu coração se acelera,
revive o doce contato
de nós dois, na primavera!

Nesta saudade incontida,
ainda sinto o sabor
do beijo, que à minha vida,
deu nova e brilhante cor!

A foto é quase um relato
do que eu não posso esquecer,
daquele beijo abstrato
que, então, me faz reviver!

Consigo, com emoção,
uma sonata, compor
ao beijo celebração,
que eternizou nosso amor!

Gislaine Canales






Ensina-me


Ensina-me
a doçura do teu olhar...
a magia e o fascínio das palavras
Que entoam nas estrelinhas dos teus lábios.

Ensina-me
o caminho dos teus sonhos,
quero apenas conquistar teu coração
ser tua estrela, luz e esperança.

Ensina-me
como ser bonita para a paisagem da tu’alma
tênue e explícita, onde reverbera o silêncio
e o medo que acolhe meus desejos.

Ensina-me
a desvendar o ambíguo certo e errado,
dissipando todas as dúvidas que transparecem
pela entreaberta realidade de cada dia.

Ensina-me
tua força e fé
enquanto meus segredos beijam teus lábios
E tuas digitais brincam desejos num prelúdio de prazer.

Ensina-me
este jeito doce e gostoso de encantar...
empresta-me as asas da liberdade e as letras
que, com maestria tocam a fragrância dos meus sonhos.

Ensina-me
como dizer deste amor
despindo-me além das palavras
loucura, pecado, oferenda...

Ensina-me
teu feitiço que descerra a menina
na maturidade da inocência,
nela ainda fecundam tolos devaneios.

Ensina-me
a mansidão e a vigília da esperança,
a linguagem do silêncio e a nudez da espera
na triste vigília, certeza da tua ausência.


Sandra M. Julio
03/04/08 (Publicado no RL em 21/06/09 Código do texto: T1660571)





Flor Imensa


Nada ligaste à flor que eu te ofertei
colhida no jardim do meu Amor,
te oferecida sem qualquer pudor,
pois foi pra ti que tanto eu a guardei...

Enquanto dava a hora de colhê-la,
amei-te nela a cada vez que a vi,
sorvendo dela olor que era de ti
e imaginando o céu por uma estrela...

E ao dá-la a ti, depositava nela,
em pensamento rubro de paixão,
a cor tão cinza de uma solidão
colorida por tons que vinham dela...

Hoje sei que não deste à flor o olhar
tão suave e terno que ela deu a ti.
Fiquei sem ela, e, triste, compreendi
nas tuas mãos a flor... sem teu amar!


Regina Coeli



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