Poesias de Outubro de 2014

Pão de açúcar


O sol aquece a pedra em fim de tarde.
A  gaiola de vidro desce pelas cordas de aço.
Olhares forasteiros entregam-se , inteiros, ao cartão-postal.
No seu regaço, a cidade arde, carne viva e sal.


Wanderlino Teixeira





Descobrimento



Sua língua em minha boca
fala dialetos estranhos,
entoa o canto de ondinas.
Conta histórias de viagens,
de miragens nos desertos,
memórias de caminhadas
noutros corpos femininos.
Provo o novo, testo o gosto,
o sal do desconhecido.
Choro o susto do batismo.

Minha língua em sua boca
pergunta seu sobrenome,
endereço, identidade,
atestados de vacina e idoneidade.
Língua medrosa menina,
sondando no céu da boca
se alguma estrela cadente
pode atender meus pedidos,
procurando nos seus dentes
o que é de siso ou de riso.

E nossas línguas de fogo
se entendem, se confundem,
em baba, Babel, beleza,
brincando um antigo jogo,
comendo do mesmo fruto.
Nossas línguas diferentes
estudam novas palavras,
pesquisam outras sintaxes,
consultam, nos dicionários,
sentidos pro sem-sentido.

Nossos sentidos, libertos
do que seja errado ou certo,
singram mares de saliva
nunca dantes navegados.


Lena Jesus Ponte
(em o Corpo da Poesia)





PORTAS DO DIA

MOTE:

Termina a noite estrelada...
e, por estranha magia,
vejo as mãos da madrugada
abrindo as portas do dia.

Abigail Rizzini

GLOSA:

Termina a noite estrelada...
Vão dormir, nossas estrelas!
A noite fica apagada,
não conseguimos mais vê -las!

Mas um milagre acontece
e, por estranha magia,
o sol no céu aparece
revestido de poesia!

Como uma bênção dourada
nessas luzes multicores,
vejo as mãos da madrugada
tecendo novos amores!

Assisto, com emoção,
essa aurora de alegria,
que acarinha o coração         
abrindo as portas do dia!

Gislaine Canales




Bruxinha Feiticeira


Sou bruxinha
Sou feiticeira.
Tenho magia,
também sou faceira.
Com você, vivo a sonhar!
No dia de Halloween,
vou fazer um bom feitiço!
No caldeirão vou misturar:
afeto...ternura...carinho e amor,
pro teu coração conquistar.


Marilda Conceição





ÁGUA NOS OLHOS


Meus olhos cheios d'água... nada fiz!
Presenciei um confronto desigual,
O do bandido contra o policial,
O "Poder do Crime" sobre o país...

Um assassino, de metralhadora!
Um soldado com arma sucateada!
A polícia dispersa e desarmada
Frente à delinquência avassaladora!

Meus olhos cheios d'água... foi-se um pai!
Nas prisões, leis emanam dos bandidos,
Os cidadãos de bem estão perdidos,
O povo, acuado, nem às ruas sai...

Será que tem político que presta?
Busquemos uma reversão urgente!
Bandido atrás das grades, não a gente,
A frágil esperança que nos resta!

Prisão ao biltre, à polícia o fuzil;
Políticos, mais ação, pelo menos!
Mais atenção para nossos acenos!...
Meus olhos cheios d'água... Meu Brasil!


Ógui Lourenço Mauri





VASSOURA


Cantar o mar, poesia imorredoura,
Já o cantaram ilustres menestréis
Ao sabor encantado das marés
Em rima que o deus sol bronzeia e doura.

Poeta em tom menor, canto a vassoura
Que investe sobre o lixo aos nossos pés
Com piaçavas valentes e cruéis,
Limpando, alegre, até o que nos agoura.

Elevo a nota e louvo a sua história
No esforço de deixar bem limpo o chão,
Seguindo a mão que a faz chegar à glória.

Só não pudeste, agora saberão,
Fazer-me limpa, livre na memória,
Do lixo que sujou meu coração... 


Regina Coeli





Acácia Amarela


No meio da paisagem,
como ouro brilhando,
uma árvore e folhagem
está me emocionando.

Logo notei seu perfume
tão suave e agradável,
 que o tempo se esfume
em um sonho formidável.

Seus cachos dourados
embelezam os outonos,
parecem ser encantados
e do amor ser patronos.

As suas folhas e frutos
curam doenças ainda,
são incríveis produtos
desta planta tão linda.


Lupércio Mundim
(Goiânia é a cidade fora da Europa com mais acácias)





MENINA


Quando te vejo, menina,
a tristeza vai-se embora
e eu sinto que, nessa hora,
a minha alma se ilumina.

Ao te manter na retina,
meu coração, que te adora,
vibra tanto, que melhora
e o meu cansaço termina.

O meu amor mais profundo
e o meu carinho mais puro
eu trago para te dar.

Meu maior prazer no mundo
(não troco por nada, eu juro)
é te abraçar e beijar.


Neide Barros Rêgo

(para Gabriela, minha primeira neta, nascida em 07/12/90)





INSTANTE


Caminhante exausto
queda-se ao chão
rosto fotografado pela lama
o corpo rodopia
querendo furar o mundo.

Peito arfando
rasteja ossos longos
o riacho lava sua alma (lama) doente
olhos vêem o céu.

Imóvel
inércia dos sábios
contempla apenas o azul
carcarás sobrevoam aquele corpo.

Percebe anjos descendo
corpo entregue ao destino
ossos, lama, azul, carcarás e anjos
agora estátuas de sal
aguardam o instante
a pausa musical...


Ligi@Tomarchio®





Marcas


Deitou-se,
certa de que o cansaço
a faria adentrar pelos portais de Morpheu.
Queria apenas esquecer.
Não havia recusa no viver
e, sim, a exigência
do que, por direito lhe cabia.
Não havia desejo de vingança,
somente o grande anseio
de recuperar o conquistado.

Inexistia
o que pudesse atingir
ou nublar a sua visão de paz.
E buscaria essa paz,
onde quer que ela se achasse.

Nem pairava,
em seus pensamentos sensatos,
a idéia de vitória,
pois constatara que o simbolismo
era insignificante
perante o que lhe engrandecia a alma.
Não mentiria jamais para si mesma,
como não mais lhe macularia
o julgamento de terceiros.

No entanto,
um espinho ainda lhe trazia incômodo.
Arrancara-o com a força de suas razões,
mas a ferida continuava aberta.
Deitou-se para esquecê-la,
vez que  persistia em dançar,
no balanço dos seus sentimentos,
aquela dorzinha ingrata
que sentiria até a cicatrização.

Entregou-se ao sono,
doutor "honoris causa"
na ciência terapêutica da cura
e não foi abraçada por ele.
Descobriu o monstro do pesadelo,
o suor, o transe, a angústia
em querer acordar e não conseguir.

De volta à razão,
percebeu a insignificância da ferida
perante seus atos causais.
O tempo,
só o tempo limparia de vez,
as marcas das suas dores.

Afinal,
eram apenas marcas...
Marcas de seus amores.


Cleide Canton
SP,05/04/2008 - 12:49 horas



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