Poesias de Abril de 2014

QUADRO DE AMIZADE


Fiquei azul quando viajei contigo
E colori minh’alma desbotada
Nos suaves tons do teu estar comigo,
Paisagem única e por ti criada.

Vivaz criança eu fui pelo gramado
Que cultivaste com tuas mãos de amor,
E o passo meu, incerto e acabrunhado,
Ficou mais firme em tua augusta cor.

Meus dias viam um correr das horas
Pelas manhãs que em mim não acordavam;
Flores havia lá nos meus outroras
De sonhos meus, que em mim não mais sonhavam...

Hoje sou cor, eu sou tonalidade
A pintar fresca a tez de um amanhã
Tão colorido em tons desta Amizade
Que te pintou pra mim qual doce irmã.

Com pinceladas trôpegas e incertas,
Mãos e demãos que pintam a tela inteira,
Eu vou pintando um céu de estrelas certas
Que do Teu brilho brilhem, Ilka Vieira.


Regina Coeli
(para a  minha querida e grande amiga Ilka Vieira)





AUTORRETRATO


Do quadrado da moldura,
meu retrato de menino parece zombar de mim:
do vinco na testa, das rugas, dos fios brancos,
da pele e sua textura.
Atento estivesse ao tempo,
suas tramoias, seus trancos,
teria então percebido:
assim feito eu,
já um tanto esmaecido,
também ele envelheceu.


Wanderlino Teixeira





CRATERAS DA LUA


Seguia seus passos
pelas crateras da lua
disformemente refletidas
na cerâmica da varanda.

Mas não ligava para a lua
que pisoteada e desprezada
expremia no doce luar
toda sua mágoa e dor.

Minha atenção se prendia
a seu jovem e belo corpo
que aquele vestido realçava
e que já me enlouquecia.

Logo nos sentamos no jardim
e começamos a nos beijar
como se no dia seguinte
os amantes fossem proibidos de amar.


Lupércio Mundim






SENSAÇÕES


Amar você é ter o abraço de um mundo bom.
Seu olhar transpassa meu ser feminino.
É doce ficar mulher sob seus olhos...
a gente fica quieta
com medo de quebrar a encantação...

Seres alados tocam cítaras.
Faunos brincam.
Os pastos se enchem
com as lãs encaracoladas dos carneiros.
Um pastor vai pisando a terra firme
e nenhuma filosofia do mundo explica este mistério...

Tudo tão sério em você!
Por isso me inundo de risos,
me desfaço em graça,
viro guizo, garça esguia, céu na água,
corça arisca, pinto a boca,
imito louca dançando polca no sorriso conquistado!

Seu olhar me faz real.
Sei que existo e não sou ninguém além de mim
ou outro ser suposto.
Você é a verdade que tenho.
Para onde vou? De onde venho?
Somos o gozo, o gosto, a resposta, a aposta ganha.

E o único entendimento é meu pastor seguir pelos meus campos,
tocando a lã encaracolada dos cabelos...


Lena Jesus Ponte

(em "Revelação")





CICATRIZ



Repare nesta jarra de cristal,
Que outrora se quebrou tão de repente.
Partiu-a gesto brusco, inconseqüente,
E a restaurou artista magistral.

Assim, nos corações, de modo igual,
A vida vai deixando em toda gente
Marcas profundas, implacavelmente,
Que, embora ocultas, causam tanto mal.

E, quando isso acontece, a criatura
Carrega no seu peito a desventura
Sem perceber a triste coincidência:

Com a jarra emendada se parece;
A cicatriz jamais desaparece
Enquanto perdurar sua existência.


Neide Barros Rêgo





TELA


Amigo, hoje me encontras preocupada,
olhando o breu do céu que me seduz
buscando a minha estrela... Onde eu a pus?
Fugiu-me nesta longa madrugada.

Os sonhos encaixados na jornada
de busca pela estrela sem capuz
não encontram os versos que compus
e a esperança já muito esfumaçada.

Recolho, então, as falas de tristeza,
as cores que não tecem a beleza
e pinto a nova tela só de amor.

Dou-te então, de presente, meu amigo,
querendo que ela fique aí contigo
e possas refazê-la com primor.


Cleide Canton

São Carlos-Brasil, 15/03/2014 - 19:20 horas





FICOU ESCRITO...



Ficou escrito para sempre, eu sei!
O amor de verdade se perpetua...
Jamais esquecerei a imagem tua;
Das gratas lembranças, não abdiquei.

Mantém-se cravada em meu coração
Uma fase linda de minha vida.
Se a felicidade se fez perdida,
Permanece o passado de emoção.

Ficou escrito no fundo do peito
Completo enredo de uma bela história.
Atos no palco de minha memória,
Com "script" lindo, quase perfeito.

Não ganhou a perfeição por um triz.
Teve começo, teve meio e fim.
Só não chegou aos píncaros, pra mim,
Pela falta atroz de um final feliz.

Pelo castigo, alguma coisa devo,
Mas algo me ameniza a punição.
Eis que, na escrita de meu coração,
Teu nome aparece em alto relevo.


Ógui Lourenço Mauri

Catanduva (SP), 06 de abril de 2013.



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