Poesias de Janeiro de 2014

Poema da cafeteria (V)


Ele estava lá, o cão vadio,
na calçada da cafeteria,
esparramado, perto do meio-fio.
Fazia frio, havia um vento que o ampliava.
E o cão ali estava, ao desabrigo,
o olhar tristonho a dialogar comigo.


Wanderlino Teixeira





Ano-novo
(In memoriam de Marina Fabiano Teixeira Leite)


Algumas pás de cimento
não enclausuram Marina.
O corpo morto prepara,
silente, a nova partida.
Nunca dantes navegados,
outros mares a convidam
a descobrir terras férteis
nas fronteiras do Mistério.

Algumas pás de cimento
não enclausuram a memória
de quem na marina fica
e acena pra nau, que singra
em busca de outra história.
E assim se renova o ciclo.
No cimento, o sentimento
de quem não é mais agora.


Lena Jesus Ponte





OSSOS DE UMA TERRA....


Osso, ossos, ossos, Mar negro e escuridão, Eclipse, desilusão.
Nordeste herdeiro, terra de bueiro,
poço de perdição.
Gente igual a cacto,
estático pelo impacto,
céu de estagnação.
Homens e rotas a correr,
Deus a se perder,
morte a nascer;
Triste negação.....


Raymundo Stelling Jr.





CONFESSA


Confessa
que tens ciúme
se a outros dou
minha atenção.

Confessa
que tens saudade
se não te falo,
se não me vês.

Confessa
que ficas triste
e quase entras
em depressão
se não te abraço
e não te beijo.

Confessa
que me desejas,
que não te cansas
de me esperar.

Não tenhas medo,
confessa!... Confessa
que tu me amas
como eu te amo.


Neide Barros Rêgo





A DANÇA ME CONTAGIOU



Ao fascínio da envolvente melodia,
À dança frenética de tanta gente,
Ninguém consegue ficar indiferente...
Todos juntos, no ritmo desta alegria!

Vem, meu amor! Entremos logo na pista!
Não há tempo a perder nesta linda festa;
No salão tomado, pouco espaço resta...
Animação dessas, não há quem resista!

Assim mesmo!... Tu sabes melhor que eu!
Encantado estou com tua evolução,
Sigo teus passos, pegando em tua mão,
Não perco, sequer, um movimento teu.

Que graciosa tu estás com este vestido!
Ele te deixa mais lépida e bonita;
Aos meus olhos, é teu corpo que gravita,
Enquanto eu danço contigo, embevecido.

Estou contagiado por este ambiente,
Por esta multidão que dança feliz;
Estou, enfim, fazendo o que sempre quis:
Dançar com meu amor, deliciosamente.


Ógui Lourenço Mauri
Catanduva (SP), 23/01/2006





A DANÇA DA TERRA


Enquanto nosso planeta dá voltas
no lindo e infinito salão do universo,
as noites passam em brumas envoltas
e os dias escoam calmos como um verso.

É algo tão natural ficar velho
que ninguém deveria nem reclamar,
mas olhando minhas rugas no espelho
só vejo o jovem que queria apenas amar...

O tempo parece passar devagar
quando somos jovens e ansiosos,
entretanto ele aparenta as horas tragar
quando nos tornamos velhos e preguiçosos.

Quero voltar ao passado e recomeçar,
corrigindo todos os meus erros e enganos,
deve ser muito bom poder do zero começar
e refazer tudo melhor com o passar dos anos.


Lupércio Mundim





SUSSURROS NA NOITE


Noite.
Entre estrelas e flores
sussurros.
Amor declarado.

Ao lado
represados sentimentos lentos
alento para dor
cor de amor!

Canções das águas
cristalinas emoções
florescem desejos
recolhe medos antigos.

Nostálgico olhar
encontra o meu
soluços
separação.

Ao mundo grita
desarmonia de sons
ecoando tristes...
Ainda amo você!


Ligi@Tomarchio®





ROSAS EM LILÁS

(para a querida Amiga e Parceira Cleide Canton)


Rubro fosse meu universo,
ornado em rosas de amor,
suplicaria meu verso
a rosa com outra cor...

Rosas fossem, e amarelas,
no doce tom da amizade,
o verso implorava a elas
rosas em tons de saudade...  

Fosse em branco meu jardim
com rosas de imensa Paz,
clamaria o verso em mim
a cor que você me traz...

Rubras rosas das paixões
esmaecem em tardes idas,
despetalam-se em senões
num chão de ilusões... perdidas.

As amarelas, amigas,
desvanecem e vão sumindo
em meio a capim e urtigas
que as vão matando, sorrindo...

As brancas nascem na gente,
é só querer cultivar:
com chuva ou sol inclemente,
cuidando não vai faltar...

Mas o meu verso aspirou
um cheiro gostoso no ar
e minh'alma se elevou
inteirinha pra buscar...

... esse olor que faz ungir
os meus passos peregrinos,
meu coração retinir
aos meus cantos tão meninos...

Dou ao verso a tua cor,
ó rosa forte e capaz
de, perdido o tom que for,
ressurgir na cor lilás.


Regina Coeli
(Cartas de alforria)





DÁDIVAS


Dá-me o eterno
porque o muito esgota-se no hoje,
no agora que o vento sopra,
como o foi no ontem,
em outonos amarelados
que não se perdem nas minhas telas.

Dá-me o sempre
porque pouca é a cor do nunca
cuja fumaça insiste
em mesclar de nódoas
o meu azul.

Dá-me o sim
porque a intransigência de tantos "não"
fizeram surgir o jamais
que busca corromper
os alicerces da paz e da esperança,
como fizeram acabrunharem-se
os horizontes
e acabaram por cobrir de lágrimas
as pistas que  não mais permitem
o decolar dos sonhos.

Dá-me a voz precisa e sem rodeios
para que os conceitos se harmonizem,
os vãos se completem
e o verniz possa, enfim, bloquear
o que não brotou para ser ceifado.


Cleide Canton

São Carlos, 10 de outubro de 2013 - 14:30 horas


Voltar!





Webdesigner: Lupércio Mundim
Poetic Soul Counters

Criado em 1º de Dezembro de 2009