REPÚBLICA
Há Direito nos direitos,
profanado e estendido
ao ranço que envolve os pleitos
do mal que não foi vencido.
Há sede no incontrolado
e náuseas no já falido.
Há inglórias no vil passado
do velho que foi banido.
Histórias foram contadas
em folhas enegrecidas
e as vitórias conquistadas
permanecem reprimidas.
"Não há mal que tanto dure
nem bem que nunca se acabe".
Na espera que a pedra fure
há visões que não se sabe.
O medo foi provocado
nos quartéis sem galhardia.
Calam-se veios marcados
na lança da covardia.
Há caminhos não seguros
e atalhos delineados
na voz que levanta muros
sobre escombros malfadados.
Há ventos que ainda sopram
dos vales, em segurança .
Há vozes que ainda cobram
a sempre doce esperança.
Há risos não corrompidos
na fala mal preparada,
no sonho bem definido,
na fé que pauta a jornada.
Há verde na nossa mata,
azul no céu turbulento.
O branco que à paz nos ata
lava a alma em acalento.
RES PUBLICA claudicante
tombando, já quase ao chão,
canta teu canto pujante
e empunha com fé teu brasão.
Cleide Canton
São Carlos, 15/11/2013 - 23:40 horas
AMARGURA
Aquele espelho na parede em frente,
emoldurado com madeira nobre,
reflete, agora, cena diferente
do crime, cujo autor ninguém descobre.
Ao seu lado, o relógio, infelizmente,
não pode revelar por que o pobre
teve a vida ceifada cruelmente.
E até o nome do assassino encobre.
Nós, seus irmãos, guardamos a amargura:
tiraram sua vida após tortura
– não sabemos quem foi, nem o porquê.
Mas... nem relógio nem espelho fala.
Hoje, os dois ornamentam minha sala.
E nós... sentimos falta de você.
Neide Barros Rêgo
(1997) para Nildo Martini de Barros.
NATAL
Sobre a mesa a toalha branca
simboliza a doce Paz
que só com Amor se alavanca,
fazendo o que não se faz.
Por sobre a toalha, o pão
é símbolo para o mundo,
completa satisfação
a um desejo, o mais profundo:
banir de vez a torpeza
com gosto de humilhação
de tanto pobre sem mesa
e tanta mesa sem pão.
Também sobre a mesa o vinho,
um copo d'água, que seja,
pra festejar o caminho
à verdade benfazeja,
que é ter a essência do Cristo
no pulsar de cada veia
e ver o irmão ser benquisto
vivendo em qualquer aldeia.
Seria tão bom, seria...
Ver o mundo aos Céus voltado
em acordes de harmonia
ecoando por todo lado.
Quero a aura do Natal
perfumando cada dia
em que o Bem convença o mal
a cultivar a alegria
e à mesa a nobre iguaria
em seu sublime sabor:
nos corações a poesia
do mundo cheirando a flor.
Regina Coeli
BRINCADEIRA
Cadê o sonho que estava aqui?
A vida comeu.
Cadê a vida?
Sumiu na lida.
Cadê a lida?
O tempo engoliu.
Cadê o tempo?
A mim destruiu.
Cadê meu eu?
O amor bebeu.
Cadê o amor?
Foi por aqui... por aqui... por aqui... por aqui...
Lena Jesus Ponte
do livro Revelação, Massao Ohno - M. Lydia Pires e Albuquerque Editores, SP, 1983.
Poema da cafeteria (IV)
Do balcão da cafeteria,
passo os olhos pela pressa dos passantes,
artistas de um teatro sem coxia:
protagonistas, coadjuvantes,
e a grande legião de figurantes.
Wanderlino Teixeira
PROCURA-SE UM PAPAI NOEL
Procura-se um Papai Noel bem brasileiro,
Com total verde-amarelo em seu visual.
Nada de indumentária vinda do estrangeiro,
Terá que mostrar sua origem tropical.
Procura-se um Papai Noel de tez morena,
Trazendo às crianças o sabor da surpresa,
Magia que o comércio retirou de cena
Na ânsia de vender, de acumular riqueza.
Procura-se um Papai Noel que abrace forte,
Um abraço bem ao modo tupiniquim...
Um gesto sem a frieza do Polo Norte,
Bem ao estilo dos que meu pai dava em mim.
Procura-se um Papai Noel, sorriso aberto,
Que a criança possa tocar, ver e curtir.
E que seu presente só seja descoberto
No exato momento em que o "Velhinho" partir.
Procura-se um Papai Noel de nossa gente.
Viajante de trenó e renas, jamais!
Nós almejamos alguém que esteja presente.
Muito nosso, sim!... Dos Pampas aos Seringais.
Ógui Lourenço Mauri
Catanduva (SP), Natal de 2008
NATAL DE ILUSÕES
MOTE:
Por toda parte só luz
e em cada mão um presente;
mas esquecendo Jesus,
ninguém o percebe ausente.
(Alda Corrêa Mendes Moreira)
GLOSA:
Por toda parte só luz
ofuscando toda a dor.
A festa muito seduz,
camuflando o desamor.
Com os olhinhos brilhando
e em cada mão um presente;
correm crianças em bando,
cada qual mais sorridente.
Esquecem a própria cruz,
pois Noel traz ilusões;
mas esquecendo Jesus,
não se unem corações.
Lauta ceia encerra o dia
animando a toda a gente;
e em meio a tanta alegria,
ninguém o percebe ausente.
(Angela Stefanelli de Moraes)