Poema da cafeteria (I)
Gosto do gosto do café pingado
tomado em goles parcimoniosos.
Gosto do ócio fecundo,
quando busco a rima, não a solução,
para os impasses deste vasto mundo.
Gosto dos momentos preciosos,
nos quais me entrego ao sonho
e me proponho a abraçar os tantos que já fui.
Gosto de alinhavar o nada
enquanto a vida flui apressada e arredia
na calçada da cafeteria.
Wanderlino Teixeira
PRIMAVERA EM ANIL
Cores dançam nos jardins
nas manhãs ensolaradas,
violetas e jasmins
entre rosas perfumadas.
Dançam cravos, açucenas,
primaveras em lilás,
margaridas e verbenas,
onze-horas bem logo atrás.
Dançam folhas em abano
verdejando em alegria,
entre o sagrado e o profano
até que termine o dia.
Na luz do olhar de quem ama
embriagado de cores,
vê-se o branco que proclama
os verdadeiros amores.
Passarinhos fazem festa
chilreando sem parar,
como se fora seresta
que as damas vai encantar.
De belo veste-se o dia
de sonhos a nova era.
Plenitude da euforia
que reveste a Primavera.
Seja bem-vinda, Senhora,
encantadora e gentil,
fazendo do nosso agora
momento terno em anil!
Cleide Canton
SILÊNCIO
Caligrafia
calar grafia
palavra morta
país mudo
Paulo Roberto Cecchetti
NEM VEM!
Que momento mais quimérico
tive hoje cedo, quando acordei,
você com um sorriso homérico
dizendo que eu muito engordei!
Não deixa de ser uma verdade,
meu corpo está se deformando,
mas meu caráter, na realidade,
continua firme, lhe ignorando!
O espelho é inimigo do crítico,
pois lhe diz na cara o que é real,
nenhum palavreado acrobático
altera para verdadeiro o irreal.
Preocupe-se com o que interessa,
com sua mania de achar defeitos,
olhe-se no espelho, sem pressa,
e deixe de lado seus preconceitos.
Lupércio Mundim
A ÚLTIMA IMAGEM
Meu bom espelho, a linha do teu aço
Rimava imagens que por ti passavam;
Umas felizes mil sorrisos davam
Na generosidade do teu traço.
Outras perdidas, por perdido o passo,
Na métrica dos versos se quebravam
E em hino roto e triste elas entoavam
O mais sentido olhar, cansado e baço.
Testemunhaste uma ilusão perdida
E tudo aquilo que pintaste aí
Na tua aquarela que hoje é despedida.
Cais da parede em que viveste aqui
E em tua face a lágrima escorrida
É a minha imagem que morreu em ti.
Regina Coeli
POETA, ESCREVE UM POEMA!
Vai, poeta!... Escreve teu poema a sós!
Na mente, deixa fluir a inspiração.
Teus olhos são a antena do coração
A irradiar a magia pela voz.
Poeta, desde teu veio inesgotável,
Faz aflorar, mágicos, teus versos líricos.
Não permitas que julgamentos empíricos
Retirem da poesia o admirável.
Poeta, faz este poema à medida
Que a inspiração se manifeste no peito,
Quando sentires que não há outro jeito
De se guardar uma paixão recolhida.
Poeta, solta o que está no coração;
Usa, abusa de múltiplas fantasias.
Faz tuas rimas a entoar melodias
E a falar de amor com sublime emoção.
Teus olhos captam e teu coração sente.
Poeta, escreve um poema, sem demora.
Que tais versos saiam, enfim, para fora,
Mesmo que sejam só pra ti, de presente!
Ógui Lourenço Mauri
Catanduva (SP), 25/09/2013.