Poesias de Julho de 2012

Inverso


Queria ir por aí, de déu em déu,
qual poeta de cordel,
apregoando o verso.
Faço porém o inverso:
cada vez mais
atrelo-me às pedras do cais.


Wanderlino Teixeira





NOSSA MÚSICA


Ouço às vezes
e sinto no ar
a música que tocava
no nosso primeiro encontro.

Entre beijos e abraços,
fomos nos envolvendo
mais e mais.
Um melodioso toque mágico
invadia o ambiente naquele instante
e nos transportava
para um mundo de maravilha.
Só nosso!

Ao som da suave melodia,
começamos a sonhar juntos,
sentindo as mesmas emoções,
sentindo-nos adolescentes,
até o momento em que percebi
que apenas eu a ouvia.

Inútil seria pedir-lhe
para relembrar aqueles instantes.
Lembranças tão pequeninas,
porém tão valiosas para mim!

Tanto amor perdido!
Lembranças apagadas pelo tempo
que não volta mais...

Tanto amor,
que hoje eu me pergunto
se realmente existiu
ou se não foram
meras ilusões!


Angela Stefanelli de Moraes






MISTÉRIO



Viajei no teu perfil
com o olhar... encantado!
Não percebeste.

Desenhei, devagarinho,
com as pontinhas dos dedos,
tua fronte inteligente,
o contorno do nariz
e teus lábios bem moldados.
Toquei o teu queixo sério.
Imóvel permaneceste.

E meus lábios percorreram
teu rosto, de beijo em beijo.
Beijei-te a fronte, a face direita,
beijei teus lábios macios...
Achei-os frios!...
Beijei-te o queixo também.
E... nenhuma reação!...
Parecias ser ninguém.

Soprei levemente
teus cabelos alinhados.
Imóvel continuaste.
Não sentiste o meu contato
porque eras, simplesmente,
um retrato.


Neide Barros Rêgo






Pão com Manteiga


Quando eu era menininha
Vivia com papai, mamãe e três irmãos,
Tinha café da manhã e da tardinha,
Café com leite, manteiga e pão.

Família de pouco dinheiro
Rédea curta na despesa mamãe tinha.
Pra fazer render o cruzeiro,
Cada vez só comprava duas bisnagas de pão.

Abria as bisnagas em quatro metades,
Na ida passava manteiga com o facão
E raspava quase tudo na volta...
Poxa, a gente dizia, nada fica em cima do pão!

Mamãe juntava outra vez as metades
Sob o olhar ansioso dos quatro;
Era a hora da "repartição"...
(Humm, pensava eu, quanto eu vou ganhar de pão?...)

Olhares gulosos seguiam o facão
Ágil e rápido na mão de mamãe,
Fazendo aparecer, como por mágica,
Quatro pedaços, quatro distintos tamanhos de pão...

Mamãe Maria iniciava a distribuição:
De uma das bisnagas cortadas,
O maior pedaço ia para o mais velho irmão;
Mamãe dizia que ele muito estudava
E precisava da energia do pão...

O pedaço que sobrava, o da ponta,
Pequeno e fininho,
Vinha para a minha mão...
Ah, reclamava eu aborrecida...
... Que miserê este pedaço de pão!

Minha mãe dizia que tudo era certo,
Que criança pequena comia pouquinho...
Aí eu perguntava: como vou crescer, então,
Comendo sempre um tiquinho de pão?

A outra bisnaga ia para os dois outros irmãos
Quase meio a meio... que tantão!
E eu com duas bocadas
Acabava com meu pedaço de pão!

Divisão desigual que acontecia
De segunda a domingo,
duas vezes ao dia...
Era muita humilhação!
Uma raspinha de manteiga
Em cima de quase nada de pão...

Por algum tempo durou aquela situação...
Até que as crianças virassem adultos,
Mudando seus hábitos de alimentação (menos eu),
Deixando até de comer pão...

Tenho hoje muita saudade
Daquele tempo, daquela divisão...
Mamãe voou pro céu, deixou o facão...
Não há por perto nenhum irmão...
Cá estou eu agora, sozinha e saudosa de tudo...
... comendo uma bisnaga inteira de pão!


Regina Coeli





PINTURA ÍNTIMA


Teus predicados ocultos são tantos,
Tens, com eles, as bênçãos de Jesus.
Atenta que o forte de teus encantos,
Vistos por Deus, não são vistos à luz.

Destarte, faz teu coração magnânimo
Comandar, desde dentro de teu peito,
A prática do bem com todo o ânimo;
Sem alarde, sem vangloriar o feito.

Faz sempre prevalecer a moral
Frente ao foco material desprezível.
É o bem tomando o lugar do mal,
É o imortal se impondo ao perecível.

Fortalece-te mais interiormente,
Pondo à frente de tudo o coração.
Para os necessitados, sê presente;
Estende a mão amiga a teu irmão.

A beleza física não perdura.
Ela escapa do progresso moral.
Daí, a busca por outra pintura;
Pintura íntima, espiritual.


Ógui Lourenço Mauri

Catanduva (SP), 15/06/2012



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