Poemadulto
Quando deixei de propalar certezas,
quando parei de cortejar princesas,
quando me achei capaz de repensar ações,
quando abdiquei de acaloradas discussões,
quando acatei a sensatez,
quando alcancei as sutilezas do talvez,
quando não mais julguei atitudes,
quando abri mãos de rebuscar virtudes,
quando da verdade não me fiz o dono,
quando não perdi o sono à cata da perfeição,
quando entendi as coisas assim como elas são,
quando consegui sorrir ante o insulto,
quando pude, enfim, agir sem entretanto,
não me transformei num santo,
apenas me tornei adulto.
Wanderlino Teixeira
MEU MAR, MEU PARAÍSO...
Águas azuis, areia, praia, mar
e um lindo sol, surgindo no infinito,
que docemente as águas vem dourar,
deixam meu paraíso, mais bonito!
Feliz, eu lanço ao mar, em meu sonhar,
um barco de esperanças, quase um mito,
e o sinto, nesse lindo navegar,
num pranto de emoção, e alegre, o fito!
Fica descompassado o coração,
a boiar nesse mar só de alegria,
onde o triste, o ruim, foi afastado!
O mar azul, dourado de emoção,
em êxtase inspirou esta poesia
e em meus sonhos será eternizado.
Gislaine Canales
BUQUÊ
Se tantas flores dei, foi meu encanto!
Nem tantas vou dizer que já ganhei,
Mas haveria em mim um desencanto
Se eu recebesse mais do que ofertei...
Meus olhos ficam cheios de carinho,
Se passo a outras mãos simples florzinha,
Bonita e tão vaidosa num raminho,
Que trato meigamente como “minha”.
Embora nada eu tenha, nada é meu,
Ao mesmo tempo (sei que não me iludo!),
Eu ouço do Universo que de um tudo
O Criador de nós a nós nos deu...
E agora que me chegam flores belas
Na dádiva preciosa de um buquê,
Eu sei que Deus me vem por meio delas
E traz-me outro presente, que é você!
Regina Coeli
Jardim Amigo
Era um jardim encantado
Florido de tantos sorrisos
Nele reinava a fraternidade
Em cada canteiro visitado
E à sombra de cada árvore
Nada de lágrima derramada
Nem de tristeza estampada
Em todos somente alegria.
Diante da roseira via-se amigos
Sob os jasmins uma doce brisa
Espalhava um suave perfume
E a rima fluía tão facilmente
Nos versos vestidos de ternura
No semblante crédulo do poeta
Que inspirado só desejava dizer
Da alegria das cores do seu viver
Pleno de fé e a estender a mão
Confiante no outro como irmão.
Ali reuniam-se seres tão ricos
De amor e sábia compreensão
Jamais fariam sofrer os corações
Reforçavam em cada um o desejo
De construir uma sólida amizade
Fizeram sumir de vez as intempéries
Cuidaram de enfeitar cada momento
Com a força da ética e do abraço
Cientes de que para todos há lugar
Neste lindo e fraternal espaço
Que para todos deve ser o mundo!
Yara Nazaré
28.10.2006
Lembranças
Viajei no tempo através da memória
e voltei naquele quintal perfumado,
o paraíso onde se inicia minha história
de filho, neto e sobrinho muito amado.
A visão do pomar, de tantos sabores,
era a alegria de qualquer criança,
cercados de tantos carinhos e amores
cultivamos só o bem e a esperança.
Minha irmãzinha, sempre de tranças,
é minha amiga e aliada verdadeira,
o mundo mágico de nossas andanças
ficava sob as sombras da mangueira.
Para a nossa copa fui me dirigindo
e revi meu avô querido, ali sentado,
ele estava sempre feliz e sorrindo
e assim deixava o mundo encantado.
A cozinha me enviou seu aroma
convidando-me para uma degustação,
era uma fornada de biscoitos de goma
que eu roubei com grande excitação.
Juntas ao fogão de lenha, trabalhando,
estavam minha avó e tias maravilhosas,
são almas boas pelas quais estou orando,
pois em meu jardim elas foram as rosas.
Encontrei meus pais na varanda,
sempre juntos, mãos entrelaçadas,
como todo grande amor demanda,
para mim são lembranças sagradas.
Voltei devagar, sem tristezas,
para a minha velhice presente,
guardei na alma apenas as belezas
desta viagem tão linda e comovente.
Lupércio Mundim
OUVE, AMOR!
Ouve, amor, comigo,
o som mágico das manhãs em festa
que me acordam mansamente...
Ouve os passarinhos
que brincam de fazer seus ninhos
até nos pequenos arbustos
balançando ao vento...
Ouve o lamento
da madrugada
a chorar a minha ausência...
Eu brinco com o ciúme dela
e lhe prometo voltar
assim que sentir a falta
de contar a vida
ao invés de saboreá-la.
Dá-me um tempo, eu lhe digo!
Permita que eu sinta o abraço do sol,
brinque com nuvens
que se esforçam para montar
meus bichos de estimação.
Eu os verei, é certo!
Ouve, amor!
É o meu peito agitado
com o pulsar forte de um velho coração
que ainda se desmancha em alegrias
com as pequenas surpresas
que a vida lhe reserva.
É a magia da esperança!
É a força, é a garra,
é a vontade de continuar a lutar
por tudo aquilo
que se fez crença!
É o sonho que não fenece!
É o retorno
de uma única prece.
Ouve, amor,
e saúda comigo
cada momento único
em que eu possa vestir azul!
Cleide Canton
São Carlos, 25/07/2011 - 17:40 horas
QUISERA DAR UMA ROSA
Quisera dar uma rosa
para alguém que não espera;
causar espanto, emoção
a um bêbado descrente;
e de um louco inconsequente
amansar o coração.
Quisera dar uma rosa
à mulher feia, enjeitada,
que não desperta paixão;
ao do vício dependente;
ao incurável doente
que já não tem ilusão.
Quisera dar uma rosa
à criança abandonada,
sem amor, sem proteção;
a quem anda descontente;
ao prisioneiro inocente
que espera libertação.
Quisera dar uma rosa
ao frágil deficiente,
tão carente de afeição;
ao que foi injustiçado;
ao que está desempregado,
triste de ouvir tanto não.
Quisera dar uma rosa
vermelha, maravilhosa!,
do poeta inspiração,
uma rosa perfumada,
sem espinho, aveludada,
a você, que é meu irmão.
Neide Barros Rêgo
EU QUIS SONHAR
Eu quis sonhar, dos sonhos, o mais lindo,
envolto pelas brumas da esperança,
com a serenidade da bonança
e a força imensa de um amor infindo!
Eu quis sonhar... meu sonho colorindo,
com a delicadeza da criança,
que é misto de pureza e confiança,
que lembra os anjos quando estão dormindo.
Eu quis sonhar... como foi bom, querer!
Mas de repente, sem que eu esperasse,
fugiste do meu sonho, sem razão.
E é tão difícil (Céus!) compreender...
Que eu, tonta de amor, te idolatrasse,
tendo de ti, só mísera paixão.
Tere Penhabe
São Vicente, 14/09/2011
REBROTOS DA PRIMAVERA
A primavera ressuscita
Nas flores o aroma e a contextura.
A vida se faz bonita,
A trescalar a ternura
De sua beleza infinita.
Olho para as flores
Como olho para os amores
A florir sem conta nos jardins da vida.
Em meio ao perfume
Que ao ar empresta,
A Natureza se resume
Numa linda festa
De paixão sem ciúme.
As árvores dormiam
Mas vivas estavam
Nos dias que o inverno
Com suas mãos frias
Do mundo ocultavam
O perfume terno
Que elas rescendiam
No colo materno
De onde nasciam.
É primavera outra vez.
E no seu vai e vem
Gesta o outono outra vez
E outra vez frutos tem.
Geraldo Generoso
15.09.2011. Ipaussu-SP
CANTO SOLITÁRIO
Cantarei para mim, solitária,
e ninguém o meu canto ouvirá.
Cantarei sem pensar que me escutem,
cantarei para mim, simplesmente,
e de certo ninguém me ouvirá.
Cantarei sem pensar em cadência,
sem na rima ou no metro pensar...
Cantarei sem pensar na sequência,
como as fontes, o pássaro, o mar...
Cantarei desprendida da vida,
tão alheia, tão longe de mim,
que jamais saberei se o meu canto
tem o claro tinir da alegria,
tem o largo pulsar da amargura,
tem a intensa agonia da dor.
Cantarei para mim, solitária,
e ninguém o meu canto ouvirá.
Mas, quem sabe se aquele que passa
apressado, cansado, angustiado,
ouvirá seu longínquo rumor?
O seu passo talvez se retarde...
Talvez pense um instante fulgace
na Saudade...no Sonho...no Amor...
Autora: Maria Sabina
(do livro Canto solitário, 1964)
- Enviada por: Neide Barros Rêgo -
POETA É ASSIM...
Se... falo de lágrimas e tristezas...
E digo do amor que perdeu a realeza.
Não falo só de mim, pode ter certeza!
Falo do amor que perdeu sua nobreza,
Do que sinto ao observar o mundo...
Do desenrolar de tantos dramas,
Das vaidades que superam tudo...
Do desafeto que tece suas tramas.
Não falo só de mim, pode ter certeza!
Escrevo o que vejo e pressinto...
Tento entender a imensurável avareza,
De como o ódio é cruel e desmedido.
Poeta é assim... sofre, morre um pouco...
Cada vez que depara com a violência,
Poeta é um visionário... completamente louco,
Reinventa o amor na sua eterna demência.
Sou poeta... poeta é um teimoso idealista...
Se entrega ao mister do amor divino...
Contesta, luta, esbraveja, é altruísta,
Tem um coração enorme e cristalino...
Não falo só de mim, pode ter certeza!
Falo da minha... da dor de todos...
Que vivem neste mundo de tristezas,
Inocentes reféns de vilezas e engodos!
Quando falo de amor... não falo só de mim...
Falo do amor que pode ao mal dar um fim!
Quero um mundo melhor para todos, sim.
Que seja a vida, o reflorir de um belo jardim!
Mary Trujillo
17.06.2011
Primavera
É setembro:
o ar se enche de luzes e cores
e a Natureza, em festa,
torna-se membro do Clube
da Alegria:
botões se abrem em flores vibrantes
perfumes se espalham nos ares
espelhando a paixão dos amantes
e a vida derrama-se em gotas.
de pura Poesia.
M. Esther Torinho
MINHA CATANDUVA FLORIDA!
As flores chegam à "Cidade-Feitiço"...
Até que, enfim, termina tão longa espera!
Setembro agoniza, já é Primavera
Com seus novos ares que não desperdiço.
Que linda, minha Catanduva florida!
Fascinam-me os matizes de seus ipês,
Uma pictorial paisagem que Deus fez
Em todo o traçado da longa avenida.
Catanduva se refaz na Primavera...
Cada ângulo mostra um cartão-postal,
A cidade é uma pintura natural
E seu colorido ganha a ionosfera.
A brisa que respiro na Primavera
Coloca-me na fronteira do delírio;
Nos jardins, suas flores parecem colírio
Escorrendo de onde a Natureza impera.
Eis que reina de novo a "Estação das Flores"!
Valeu aguardar... Quanta felicidade!
São novos fluidos a envolver a cidade;
Nos romances, beijos com outros sabores!
Ógui Lourenço Mauri
Catanduva (SP), 17.09.2006 |
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