Eu, Palhaço!
No picadeiro os pés eu coloquei
Na vontade infinita de sorrir
Sorrisos que viessem colorir
Os choros tão doídos que chorei.
Abri meu peito, arremessei-me à lei
De disfarçar-me em mim, fazendo rir...
E gargalhando a dor no meu fingir,
Fingi que eu era outra, e gargalhei!
As roupas, coloridas e engraçadas,
Fugiam do meu corpo em descompasso
Nos gestos vãos, vazias mãos, cansadas...
Grave silêncio apressou seu passo
E o pranto fez calar as gargalhadas
Que riam por eu ser triste palhaço!
Regina Coeli
No fio da navalha
Tudo por um fio.
Vida é navalha,
é sangria desatada,
é água a escoar da talha,
é suor, é calafrio.
Num sopro, tudo se transforma em nada.
Se existe a escada, pode haver o tombo,
há o edifício e o escombro,
a paz e o assombro.
Tudo se baralha:
o abadá e a mortalha,
o berço e o ataúde,
começo e finitude.
Wanderlino Teixeira
Migalhas de mim
Pesam-me as asas...
Pesam-me as sombras, os sonhos,
fantasias e máscaras.
Pesa-me, mais que tudo,
o vazio onde eu mergulho,
a minha intensa sensação de nada...
O Ícaro que vivia em mim,
hoje se traduz, nos braços cruzados,
nos meus pés descalços
que tateiam o piso frio,
como se fosse o meu interior,
em busca de mim,
que há tempos, perdi...
Falhei! Não há mais
certeza, beleza, nobreza...
Fui aos poucos,
ficando pelo caminho,
de pedacinho em pedacinho,
às margens da insensatez...
E para aonde vim, só carreguei,
migalhas de mim!
Tere Penhabe
Santos, 18/06/2009
Sonho em Linha Reta
À época da infância
e, sobretudo, na juventude
a vida são muitas possibilidades
que todos têm como concreta certeza.
Depois, a vida põe as cartas sobre a mesa
e, em seu infindável movimento,
tantos sonhos são tragados
pela corrente de vento.
Na juventude todos os sonhos são possíveis
e todo sonhador é poeta.
A vida, que mais tarde se torna curva
na infância é um ponto de encanto
e na juventude é sonho em linha reta.
M. Esther Torinho
OLHOS DO SILÊNCIO
Olhando o céu entre folhas e galhos
iluminância calada resplandece
doura as jabuticabas
alimento dos pássaros famintos
de amor e fantasia.
Revoada de borboletas adornam
corpos etéreos multiformes
cores doces e sabores
respingos de vida em meu rosto.
Tomada pelas lembranças
assumo a posição fetal
colostro alimenta a alma
ausência de dor e sons rudes.
Em êxtase retorno
vislumbro nos arredores
felinos animais observando
magia encobrindo meu ser.
Manto sagrado aquece meu corpo frio
vindo de tão longa viagem
nada há para ouvir
paz se fez em mim encanto.
Ligi@Tomarchio®
SP-25/10/2004-02:15