O POUSO DO PÁSSARO ARDENTE
Plena de magia, sem alarde,
arde a Poesia.
E repousa sua inquietude
na beatitude e no pecado,
no distante e naquilo que reside ao lado,
num raio de Sol rompendo nuvem,
num grito de gol calado na garganta,
na frigidez da imagem santa,
no planejamento da viagem,
no sim e no talvez,
na chuva, na estiagem,
no momento da partida,
na lida e no descanso,
no manso olhar que habita o pasto,
no punho gasto da jaqueta usada,
no que existe além da curva da estrada.
A Poesia ousa, urde.
Em tudo pousa, a tudo alude.
Wanderlino Teixeira
OUTONAIS
O teu amor, querido, jóia rara
que aflora, tão constante, em diagonais,
é dos sonhos que abrigo a flor mais cara
nestas tardes de matizes outonais.
Chega sempre, sorrateiro, de mansinho
nos momentos em que dorme a nostalgia
neste peito que abriga, com carinho,
o mais puro sentimento que ele cria.
Seja então um presente de verão
que acalenta estes dias mais cinzentos,
e um sorriso de doçura em gratidão
dança aqui, onde morrem meus lamentos.
Cleide Canton
(SP,27/02 - 14:25 horas)
SOU FELIZ ASSIM ME DIGO!
Meu olhar avista a imensidão
Insisto olhar em minha volta
Tudo está parado e distante
Sinto-me no infinito do tempo
Nada mais se move nos ares
Só detalhes das lembranças.
Se algumas me afligem
Ignoro-as para não sofrer
Outras são como dádivas
Que só me causam alegria
Alimentando-me de energia.
Tento ignorar a saudade
Ela sempre chega gigante
Basta! Chega de nostalgia
Dirijo meu olhar sorrateiro
Para a luz que me clareia
É a luz que vem do infinito.
Ensaio um sorriso matreiro
E faço uma pilhéria de mim
Repito várias vezes sorrindo
Sou feliz assim me digo ser
Sou! Sou sim, quero ser!
Yara Nazaré
(28/02/2011)
VÍCIO
Pudesse, te riscaria
da minha vida, Poesia!
Tirana,
me afastas dos meus.
Há milênios, eternizas
poetas e suas musas.
Camões, Dante, Petrarca,
Castro Alves, Bilac...
Laura, Amélia, Inês,
Natércia, Beatriz...
Quem as conheceria
se não houvesse poetas?
Quem saberia deles,
não fosses tu, Poesia?
És para mim
um vício,
um ópio necessário.
E, por isso, me fascinas!
Porque me entreguei a ti,
eu te pertenço, Poesia!
Neide Barros Rêgo
para Nídio Martini de Barros, meu irmão (1992).
INTENSIDADE
Naquele momento,
o amor era uma colcha
de alegres retalhos
a vida sabia a cor e a sal
e tinha o cheiro suave
de gotas de orvalho.
M. Esther Torinho
DOIS TEMPOS
Se o Tempo fere (ah, fere o Tempo enquanto passa...)
E pisa os sonhos (tão pisado o que sonhei...),
Pergunto ao Tempo: — Tempo, diz-me a tua lei,
E o Tempo ri, e passa perto, e nem me abraça...
Voltei no tempo e achei-me rindo numa praça
Cheia de flor... Juntinho a mim eu me sentei,
Para encontrar o tempo exato em que deixei
Fugir meu tão bonito sonho e a minha graça...
Senti brotar em mim bolinhas de sabão
Tão coloridas como aquelas que eu fazia,
Soprando sonhos por canudo de mamão...
Olhei pro lado e vi um olhar que me sorria...
Me descalcei do Tempo e os pés pousei no chão;
Corri, virei criança e me abracei ao dia!
Regina Coeli
SOLITÁRIOS PASSOS
Para mim, és agasalho das Alturas,
Que me chegou à metade do caminho.
Contigo, sei que não estarei sozinho,
Face à cumplicidade nas horas duras.
Com teus olhos, reergueste minha autoestima,
A mando dEle, na raia tu entraste.
De minha vida, foste tu o guindaste
Que, por Deus, fez eu dar a volta por cima.
Estar só, hoje não passa de lembrança.
Meus solitários passos foram de vez.
No mar bravio, em que o tempo se refez.
Depois da tempestade, veio a bonança.
Foste o bálsamo para minha ferida,
Que surgira de meus passos solitários.
Tu trouxeste os ingredientes necessários
Ao nosso amor, em retomada de vida.
Sinto mais um anjo do que uma mulher,
Em teu aconchego, que igual nunca vi.
Dos solitários passos antes de ti,
Não tenho saudade, um tiquinho sequer...
Ógui Lourenço Mauri
Catanduva (SP), 20/10/2010.