Existência
A vida deve ser aproveitada
a cada segundo que passa,
cada manhã deve ser cantada
mesmo quando o amor fracassa.
Estar vivo é uma bondade
que nós sequer agradecemos,
sermos gratos é necessidade
que nem sempre reconhecemos.
Mesmo assim o sol nasce
trazendo-nos luz e bonança,
com ele também renasce
nossa fé, nossa esperança.
Viva bem cada momento
desfrutando sua existência,
pois o verdadeiro sofrimento
é não saber o fim da vivência.
Lupércio Mundim
ARMADILHA
Por estar descrente
da sinceridade e do carinho,
da simplicidade e do respeito mútuo,
decidi não mais amar
ninguém!
Ledo engano!
Como explicar tantas surpresas?!
Será o destino
a nos pregar peças?
Ou será o Amor
que de mansinho
se apossa de nossas almas?
Afinal,
eu havia jurado
não mais permitir
que este sentimento
de mim se aproximasse.
Poderia até gostar de alguém
mas
com uma condição:
jamais Amar!
As palavras
“PROIBIDA A ENTRADA DO AMOR!”
que eu havia escrito na minha “porta”,
de nada serviram,
pois você
carinhosamente
as tirou,
tentando convencer-me
de que não podemos lutar
contra nós mesmos!
E agora,
que voltei a acreditar no amor sincero
quero viver nossos momentos
intensamente
como jamais vivi
e preservar tudo o que construímos
com tanto amor!
Angela Stefanelli de Moraes
Ambivalência
Diante desse tudo
ou desse quase nada
já não sei se volto ao caminhar miúdo
ou solto o pé na estrada.
Se desato o laço dessa corda bamba
ou ato o nó na alça da caçamba.
Se queimo vida nesse fogo-fátuo
ou se de fato tento nova ida.
Se afasto o tule dessa nova tela
ou se entulho a talha com esse vinho velho.
Se curto o corte dado no baralho
ou meto o manto e me amortalho.
Se mato o mito que se mete em mim
ou se me omito e me torno mudo
diante desse nada ou desse quase tudo.
Wanderlino Teixeira
SÃO TOMÁS DE AQUINO
São Tomás de Aquino!
Minha querida cidade,
pequena na realidade,
enorme em meu coração!
Vizinha de Paraíso,
eu te vejo, São Tomás,
bem abaixo do nariz
do mapa inconfundível,
mapa de Minas Gerais.
As ruas, todas calçadas,
com subidas e descidas,
rumando à Cidade Baixa
(outrora Fundo do Pito),
onde o “corgo”, cristalino,
corre a brincar entre as pedras.
Praça Cônego Tomás.
Tão imponente o coreto!...
Em um dos seus velhos bancos,
o nome do meu avô:
Raphael Martini, “o Conde”,
marceneiro, entalhador,
o mestre dos altares
de Santa Teresinha e São Geraldo
da linda Igreja Matriz,
todos pintados em ouro,
além do seu altar-mor
que a Igrejinha do Rosário,
agora, exibe orgulhosa.
E, modelados em fícus,
leão, camelo, elefante,
verdes, bailando no ar,
adornavam o jardim
e encantavam minha infância!
Grupo Escolar Olegário Maciel!...
(Hoje, mudaram seu nome).
Dona Lourdes, dona Amelinha,
minhas primeiras professoras.
Como esquecer a matula,
a forma, o Hino Nacional,
as brincadeiras de roda,
pique-esconde, amarelinha?...
Parecia tão grande a casa onde nasci;
tão comprido o corredor!...
Imensa estrela de madeira,
criada por meu avô,
enfeitava o céu da sala de visitas.
Na cama, colchão fofinho de palha.
Ninguém podia sentar:
a palha iria murchar.
Lembro a horta do meu pai,
Francisco das Chagas Barros,
conhecido por Tenente
– nome usado por direito.
No pomar, goiabas, mangas...
Na primavera, as jabuticabeiras
eram noivas cobertas de flores
branquinhas e perfumadas!
Abelhas zumbideiras
voejavam doidinhas.
A terra vermelha,
o café doirando no terreiro,
o leite gostoso, o queijo famoso,
o mingau, a pamonha!
A gente tranqüila,
sem pressa, dizendo “uai”,
naquele jeito calmo de falar.
Minha São Tomás de Aquino,
minha querida cidade!
Tu hás de viver em mim,
minha infinita saudade!
Neide Barros Rêgo
Para Dirce Martini Claro, minha tia. (1992)
ESTOU AQUI...
Surdo, cego, mudo
encontrei-te em meus sonhos
delineando o caminho a seguir
para teus braços encontrar.
No vale onde encontrei os sinos
ecoavam todas as cores do meu e teu viver
entrelaçadas, encontramos nossas mãos
tocadas por anjos
banhadas em água cristalina
e assim eu vi o arco-íris
viajei-te, vaguei sobre ti
tal borboleta perdida entre as flores...
Encontrei-te
não estás perdido,
mesmo sendo etéreo seu existir...
Ligia Tomarchio
SP - 03/05/2007/01:15
TOSCA INSPIRAÇÃO...
Partiste levando sonhos...
Deixaste uma saudade dourada de sol,
Um vazio prateado de lágrimas
Minguante lua, crescente saudade.
Tão longe...
Teu olhar perdido numa tela fria,
Brejeira carência sangra minh'alma
Pelas solitárias manhãs de cada dia.
Sem medo, parte a galope
Deixando perdidas notas de alegria,
Sorrisos soluçando pautas vazias
Sinfonia de parto conjugado em amor.
Pelo silêncio, fantasias de regresso...
Asfixiam alma ludibriando verdades,
Pronunciando versos, mentindo à dor
Ilusão cravada em letras, tosca inspiração.
Sandra M. Julio
ESTRESSE
Acelero as amígdalas do meu cérebro,
meus pensamentos disparam,
as emoções fervem,
crescem, crescem . . .
Preciso colocar freios,
acalmar o interior,
sossegar os meus desejos,
entrar numa letargia
que me tire da agonia,
que me traga a leveza do meu ser,
a serenidade para viver
uma vida sem estresse.
Confesso, estou exausta.
Cansei da disputa,
da luta . . . por nada,
da correria, sem destino.
Procuro a paz, a serenidade,
o encontro com a tranquilidade.
Dionilce Faria
O MERCADOR
Eu vi passar por mim, um mercador,
com toda espécie de quinquilharias.
No seu estoque, não tinha ilusão,
perdeu no jogo todas as que tinha.
Oferecia, aos brados, na calçada:
"- Venham, é barato, é quase nada!
Eu tenho dores, faltas e manias,
eu tenho tudo que jamais teria,
se, por alguém, tivesse sido amado.
Sonhos diversos, os mais variados!
Podem escolher, são coloridos,
belos e puros, nunca realizados...
Tenho traições nessa bagagem,
de amores e de amigos. Foram tantas...
paga que tive após lhes dedicar,
amor sincero e puro de verdade.
E ainda que mil anos se passarem...
irá doer por toda a eternidade.
Tenho saudades de qualquer tamanho,
das que nos fazem logo adormecer,
saudades das que todos querem ter,
é o que mais tenho,
venham... venham ver!"
Ele seguia, firme, rumo ao nada...
a oferecer o que a vida lhe deu,
num inventário de cruel fascínio,
dos ganhos que aufere quem perdeu.
Quem perdeu até mesmo a esperança,
aquela derradeira, esfarrapada,
que se vê despencando num abismo,
dando a certeza de não ter mais nada!
Com algo de tristeza, eu percebi,
que aqueles passos trôpegos que vi,
a oferecer o que ninguém precisa...
era meu coração que estava ali,
na tentativa frágil e indecisa,
de reaver a crença que perdeu,
depois de tudo que viveu, sofreu...
Tere Penhabe
São Vicente, 04/08/2010
TEUS OLHOS!
Quando por vez primeira
Busquei bem olhar o teu olhar,
Teus olhos se ocultaram na maneira
De criança que se furta a um chamar!
Notei sim!, como eram lindos à luz do sol...
Pude vê-los profundos à luz do luar!
Se durante o dia eram prêmios de escol,
À noite me faziam com amor sonhar!
Hoje, dias e dias passados...,
Teus olhos me dão contrastante agonia:
-Se deles estou perto não sei se é noite ou dia,
E, se longe estou, não sei se
Lembrá-los como um dia de claro luar,
Ou..., noite de sol para um melhor esperar!
Leyla Gomes
Petrópolis. 11.1950-No colorido da madrugada
CRENÇAS
Que rumos tomarão as minhas crenças
fundadas em razões que desalinham
nos verbos conjugando diferenças
em bocas de certezas que se aninham?
Que sede de verdades escondidas
permeia cada gesto, cada busca
do brilho das raízes carcomidas
que o peso da cegueira há muito ofusca?
Acalma-te, demora a temperança!
Espera! Abraça forte a esperança
e zela por teu céu e por teu mar.
Tão logo há de brilhar a estrela-guia
por sobre o velho teto que ruia
em mãos que recusaram restaurar.
Cleide Canton
SP, 05/11/2010 - 16:30 horas
FELICIDADE
Às vezes, absorto em minha introspecção,
À mente me chega com facilidade
A visão tão minha de "felicidade",
Ao sabor do pulsar de meu coração.
Felicidade é de longe ser querido,
Num pacto de amor e de mútua confiança.
Felicidade é sonhar, ter esperança...
Saber que, nessa fé, sou correspondido.
Felicidade é navegar em teus poemas,
É enfronhar no sentido de tuas rimas.
É decorar e aplaudir tuas obras-primas,
Já que, com elas, me colocaste algemas.
Felicidade é amar tu'alma primeiro,
Antes de sentir ao vivo teu calor.
Encantar-me com tua beleza interior
Para depois ver teu corpo por inteiro.
Felicidade é ter o pressentimento
De que estaremos, em breve, frente a frente.
Eu espero afoito por este presente,
Uma recompensa pro meu sofrimento.
Ógui Lourenço Mauri
Catanduva (SP), 23/04/2009
VAIDADE
Quão vaidosa no céu vai desfilando
A lua em sua beleza iluminada,
Cantada em tanta estrofe sincopada
No verso de quem vive poetando.
No tempo de surgir um novo quando,
Diz um poeta, em letra soletrada,
Que a luz da lua vem a ser um nada,
Porque é do sol a luz iluminando...
A lua ficou triste e bem distante...
E ainda ouviu dizer do azul que encerra
Certo alguém de que o poeta fez-se amante...
Ao ver surgir seu brilho atrás da serra,
Eu choro ao imaginar, num raro instante,
A lua em seu chorar, olhando a Terra!
Regina Coeli