Poesias de Março de 2010

POR QUE, FLORBELA?


Por que, Florbela, abandonaste a vida,
tristemente, num quarto solitário?
Por que marcaste a hora da partida
para o dia do teu aniversário?

Pudesses resistir, mulher sofrida,
farias de sonetos um rosário.
Talvez, no afã dos versos, distraída,
esquecesses o mal do teu sacrário.

Mas eu não te condeno, pois o amor,
o amor, em ti, Florbela, foi tão forte,
tão grande a tua angústia interior!...

Teus versos foram belos de tal sorte
que, após uma existência de amargor,
teu nome permanece além da morte



Neide Barros Rêgo




RACIONALIDADE LIMITADA


Razão, que destrói argumentos,
não vence a força dos sentimentos.
O que é lógico pode estar pendente
de uma transformação do ambiente,
do tempo, dos minutos, das horas,
da educação, da enganação,
da informação recebida e truncada,
pode fazer a racionalidade limitada.

Racionalidade, que se diferencia da animalidade
encontrada nos seres inferiores,
pode condenar inocente
com a superioridade da mente,
levar à distorção da verdade
e até trazer infelicidade.

A razão tem a sua barreira,
pois a liberdade, também, é prisioneira
de um conceito social
que impede o voo geral,
por causa do pouco conhecimento
que não nos dá o discernimento.

Raciocínio, só dentro dos limites,
dependendo da codificação existente,
da corrente em sua mente,
dos momentos já vividos
e dos traumas já sentidos.
Somos todos dependentes
dos conceitos existentes.



Dionilce Silva de Faria




DEIXA-ME TE AMAR


Deixa-me te amar em silêncio.
Não te falarei de amor,
nem te pedirei nada.
Deixa-me pensar que sou amada.
Deixa-me sonhar.
Deixa-me sentir a doce emoção
de estar em teus braços,
sentir o pulsar descompassado do teu coração,
beber no cálice da tua boca,
embriagando-me em teus beijos apaixonados.

Deixa-me sentir a essência da tua  pele,
penetrando em meus poros.
Deixa-me navegar em  teu corpo,
extasiando-me nas mais belas

e ardentes sensações.

Deixa-me te amar, plena e intensamente.
Quero viver o agora.
Não sei se haverá o amanhã.
Deixa-me viver esse momento,
numa entrega total de corpo e alma,
como se fosse o nosso único e último instante.


Marilda Conceição



ETERNA PAIXÃO


Num primeiro olhar,
no primeiro gesto,
sentimos
que nos pertencíamos!


A paixão chegou forte
tomando conta de nossos corpos;
da nossa alma...
e o tempo encarregou-se de fortalecer
este Amor!


Nossas almas,
tristes,
castigadas pela incompreensão,
mereciam a oportunidade  de encontrar
esta cumplicidade.


Secamos nossas lágrimas.
Abrimos espaços à felicidade
de um amor sem fim.


Merecíamos esta trégua!


Angela Stefanelli de Moraes



FANTASMAS DO PASSADO


I – O MAL

Vejo-os flutuando sobre mim
com suas capas pretas e sombrias,
desejando o meu mal, o meu fim
para, então, fazerem suas zombarias.

Destes pobres coitados tenho pena,
são seres ignorantes e inferiores,
seguem o demônio, que lhes acena
com uma vida triste e sem amores.


II – A ORIGEM

Pergunto-me o que posso ter feito
para provocar tão odioso sentimento,
mas sei, bem no fundo do meu peito,
que nada fiz para sentir arrependimento.

Quando pessoas se unem pela crueldade
seus alvos são escolhidos por antagonismo,
basta ser uma pessoa sem qualquer maldade
para se tornar vítima de todo tipo de cretinismo.


III – A TORMENTA

Vejo a festa que vocês adoram fazer
quando percebem que atingiram seu alvo,
praticar o mal, para vocês, é diversão e lazer
e até acreditam que disto ninguém está salvo.

Mas eu aprendi a ignorar esta tormenta,
a flutuar bem acima desta nuvem negra,
sinto-me como quem nem sofre nem lamenta,
apenas sobrevive como uma pessoa íntegra.



IV – O PREÇO

Eles ignoram a Justiça Divina,
que serão posteriormente julgados,
tremeriam se pudessem imaginar a sina
de quem vive para deixar outros magoados.

Existe uma lei para todo o universo,
a cada ação corresponde uma reação,
um ser humano pode ser muito perverso,
mas muito lhe será cobrado por cada má ação.


V – O PERDÃO

No início eu me deixei contaminar
e enchi meu coração de tolo ódio,
queria com vingança a raiva eliminar
mas algo em mim rejeitava tal episódio.

Aos poucos fui compreendendo
que todo o mal deve ser perdoado,
do ódio que senti eu me arrependo
e agradeço a Deus que tenha terminado.


Lupércio Mundim




Confluências


O ontem, tão distante por imposição de Cronos,
pleno de vitórias e reveses,
surge à vezes nuns assomos.
Então quem fomos
confunde-se com quem agora somos.
O que antes ardia na pira dos olvidos,
vira marulho aconchegante de água da fonte
ou o cantar sonoro de uma ave
a ressoar suave nas conchas dos ouvidos.



Wanderlino Teixeira




PARTINDO...


A cada passo que vou dando pelo caminho,
vou deixando cair pedacinhos de mim...
Ora são flores cultivadas no meu coração,
ora são dores causadas pela minha parte ruim.
 
O caminho vai ficando cheio de histórias e memórias...
E algum dia, todos saberão:
- Não passei pela vida em vão!
 
Quando aqui cheguei, fui jogada numa briga,
onde o mundo hostil me envolveu numa intriga.
Entre tantos últimos suspiros... sobrevivi!
Talvez para escrever meu verso...
 
Depois amei... sempre como se fosse a primeira vez!
Amei as flores, os passarinhos, as borboletas azuis...
amei o ser humano.
O rigor do inverno que castigava meus pés descalços.
Amei as alegrias e muitos percalços...
Amei tanto, que já nem sei
se foi muito ou pouco que eu amei!
Sei apenas que amei...
 
Apesar do sofrimento, das traições e falta de lealdade...
nunca odiei nada nem ninguém.
O meu ódio... exorcizei em orações e poesia,
nem sempre como eu queria.
 
Sei que a muitos magoei,
e em cada minuto da vida e da morte,
peço perdão...
Nunca desejou isso, o meu coração.
 
Agora, mais uma vez estou de partida...
Deixando para trás, lugar e pessoas que amei.
Sentirei saudades... mas novamente amarei,
onde estiver, para onde for...
sei que será cultivando o amor!
 
A vida é assim... feita de chegadas e partidas,
passando por muitas mortes e vidas...
até que um dia, eu sei,
haveremos de estar todos juntos:
- Eu...
e aqueles que amei.


Tere Penhabe

Santos, 16/03/2010




SEMENTE DE DOR


De mãos atadas
nada escrevo
de alto ou
baixo relevo.

Nas arestas e encostas
propostas surgem
urge entendê-las.

De todo não descarto
um momento que tardio
a se impor à vontade
de ser o imaginário.

Criador, criado, criatura
mistura de sonho e realidade
sem idade, eterno
moderno jeito de existir
sem persistir no objetivo
criativo, destrutivo.

Desfruta, a fruta madura,
de sementes viris
férteis pensamentos
antes descartados
agora encarte de revista.

Na vista do olho
vê-se a retina
que olha a mente,
esconde verdades.



Lígia Tomarchio




UMA HISTÓRIA DE AMOR


Nosso idílio escreve uma história de amor.
De princípio, de um meio e final feliz.
Começou faz tempo e mantém o fulgor,
Numa convivência de lindo matiz.

Parece que foi ontem a tal canção
Que acoplou nossas almas tão de repente.
Nossos corações se uniram, desde então,
Em linda história de amor sem precedente.

Hoje, te amo como da primeira vez.
Sinto o sangue ferver, forjo fantasias.
Pairo nas nuvens ao sabor de tua tez,
Que atiça meu ímpeto todos os dias.

És bálsamo que cura minhas feridas,
Tu pões brilho em meus olhos quando sorris.
Encarnas o tônico de nossas vidas,
De teus dogmas humanos, sou aprendiz.

Tudo que é meu é teu, sim!... E vice-versa!
Reciprocidade cabal, verdadeira...
Solidários quando a fase for adversa,
Vivemos a dois bem à nossa maneira.

Passado e presente nos impõem a proeza
De um futuro que será lindo e risonho.
Convicto, jamais me afastei da certeza
Da realização total de nosso sonho.

Eu sei que estamos juntos nesta existência
E creio retomar tuas mãos nas Canduras,
Nosso amor, sob respaldo da Providência,
Prosseguirá eternamente; nas Alturas.


Ógui Lourenço Mauri
Catanduva (SP), 23.12.2009



NAVEGANTES DO AMOR


Noite quente, deitado no tombadilho,
Via inúmeras estrelas brilhantes,
Que nunca tinha reparado antes.
O luar iluminava-me com seu brilho.

Velas recolhidas em águas calmas do mar
Que beijavam o casco do meu bravo veleiro,
Agitando-o levemente, quase a me ninar.
Quantas viagens fizemos, velho companheiro!

À minha volta, só havia o horizonte.
Nada dos lados, nada atrás ou defronte.
Junto a mim, ainda com o cabelo úmido,
Minha amada que, há anos, me põe túmido.

Já nos refrescáramos para a viagem seguir
Nas convidativas águas tépidas do oceano.
Não nos preocupamos, porém, em nos vestir;
Em algo pensamos e nasceu logo um plano.

Puxei-a sutilmente mais para perto de mim.
Enlaçamo-nos apaixonados, fazendo acontecer.
Protelamos ao máximo a chegada do fim.
A lua, pudica, atrás de uma nuvem, foi-se esconder.


Ary Franco




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Criado em 1º de Dezembro de 2009