Ad_aeternum
Não deixes que eu me sinta só
nem que se apague do meu rosto
esse sorriso.
Tenho certeza
de que estarás sempre comigo
a cada instante
desse meu fim de vida sem alegrias.
Quero sentir a sutileza dos teus passos,
ser envolvida pelos teus abraços,
te ouvir falar ao meu ouvido desse amor
que eu não sabia que era tão imenso.
Enxuga dos meus olhos as lágrimas sentidas
e permanece junto a mim por mais mil vidas
que Deus me possa um dia conceder.
Repousa em teu silêncio derradeiro
mas não te esqueças: nosso amor foi o primeiro.
E será sempre o último a morrer.
Afogada
Não quero encarar mais os meus medos.
Não porque tenha medo ,
não porque eles me abalem
as estruturas meramente emocionais.
Não quero encará-los
pois, no fundo do meu ser,
eles residem nos sótãos de minh’alma,
mexendo em baús empoeirados,
tirando coisas impossíveis de se crer,
que fiz adormecer
nas entranhas do passado.
Quero afogar as mágoas bem no fundo
do que não quero mais lembrar.
Quero afogar meus medos simplesmente
vendo-os morrer aos poucos.
devagar...
E nesta ansiedade inesperada
em busca de uma total libertação,
afogo os medos, as saudades, as lembranças.
Afogo tudo, e deixo em paz meu coração.
Cais
Aporto o meu navio no teu cais,
porto seguro da minha insensatez.
Tenho receios de que não venhas nunca mais
e que esta seja a nossa última vez.
Me entrego nesse porto abandonado
sem luz, sem cor,sem mais uma esperança.
Naufrago a solidão do meu passado
perdido eternamente na lembrança.
Devolvo ao mar, ao sol, ao firmamento
a bússola que foi sempre o meu norte
à espera de que em qualquer outro momento
o meu navio noutro porto aporte.
Volto a partir em mares de aventuras
tentando encontrar um novo espaço,
desafiando noites tão escuras,
a procurar tua nau em outro abraço.
Meus jardins
Não há portas nos meus jardins.
Chega-te, vem passear
nessas aléias floridas
onde as ervas arrancadas
deixam perfume no ar.
Nessa débil nostalgia
onde o amor nunca se acaba,
não deixe que cesse a luz
de um sonho louco, impossível,
imenso tal como o céu.
Nessa visagem ancestral
de uma emoção diferente,
o silêncio nos transporta
pela fonte deslizante
das águas da tua voz.
O vento, como um suspiro
numa aragem matinal,
vai conhecer este espaço,
vai trespassar os limites,
só pra te ver passear
nos verdes dos meus jardins.