Biografia


 
          Terceiro ocupante da Cadeira 21, eleito em 23 de dezembro de 1926, na sucessão de Mário de Alencar e recebido pelo Acadêmico Gustavo Barroso em 20 de abril de 1927. Recebeu o Acadêmico Guilherme de Almeida.

          Olegário Mariano (O. M. Carneiro da Cunha), poeta, político e diplomata, nasceu em Recife, PE, em 24 de março de 1889, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28 de novembro de 1958.


          Era filho de José Mariano Carneiro da Cunha, herói pernambucano da Abolição e da República, e de Olegária Carneiro da Cunha. Fez o primário e o secundário no Colégio Pestalozzi, na cidade natal, e cedo se transferiu para o Rio de Janeiro. Freqüentou a roda literária de Olavo Bilac, Guimarães Passos, Emílio de Meneses, Coelho Neto, Martins Fontes e outros. Estreou na vida literária aos 22 anos com o volume Angelus, em 1911. Sua poesia falava de neblinas, de cismas e de sofrimentos, perfeitamente identificada com os preceitos do Simbolismo, já em declínio.

          Foi inspetor do ensino secundário e censor de teatro. Representou o Brasil, em 1918, como secretário de embaixada à Bolívia, na Missão Melo Franco. Foi deputado à Assembléia Constituinte que elaborou a Carta de 1934. Em 1937, ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados. Foi ministro plenipotenciário nos Centenários de Portugal, em 1940; delegado da Academia Brasileira na Conferência Interacadêmica de Lisboa para o Acordo Ortográfico de 1945; embaixador do Brasil em Portugal em 1953-54. Exerceu o cargo de oficial do 4o Ofício de Registro de Imóveis, no Rio de Janeiro, tendo sido antes tabelião de Notas.

          Em concurso promovido pela revista Fon-Fon, em 1938, Olegário Mariano foi eleito, pelos intelectuais de todo o Brasil, Príncipe dos Poetas Brasileiros, em substituição a Alberto de Oliveira, detentor do título depois da morte de Olavo Bilac o primeiro a obtê-lo.

          Além da obra poética iniciada em livro em 1911, e enfeixada nos dois volumes de Toda uma vida de poesia (1957), publicados pela José Olympio, Olegário Mariano publicou durante anos, nas revistas Careta e Para Todos, sob o pseudônimo de João da Avenida, uma seção de crônicas mundanas em versos humorísticos, mais tarde reunidas em dois livros: Bataclan e Vida Caixa de brinquedos.

          Sua poesia lírica é simples, correntia, de fundo romântico, pertinente à fase do sincretismo parnasiano-simbolista de transição para o Modernismo. Ficou conhecido como o “poeta das cigarras”, por causa de um de seus temas prediletos.


Fonte: Academia Brasileira de Letras



Poesias


O MEU RETRATO


Sou magro, sou comprido, sou bizarro,
Tendo muito de orgulho e de altivez.
Trago a pender dos lábios um cigarro,
Misto de fumo turco e fumo inglês.

Tenho a cara raspada e cor de barro.
Sou talvez meio excêntrico, talvez.
De quando em quando da memória varro
A saudade de alguém que assim me fez.

Amo os cães, amo os pássaros e as flores.
Cultivo a tradição da minha raça
Golpeada de aventuras e de amores.

E assim vivo, desatinado e a esmo.
As poucas sensações da vida escassa
São sensações que nascem de mim mesmo.


Olegário Mariano
(Evangelho da sombra e do silêncio, 1912.)




A ÚLTIMA CIGARRA


Todas cantaram para mim. A ouvi-las,
Purifiquei meu sonho adolescente,
Quando a vida corria doidamente
Como um regato de águas intranqüilas.

Diante da luz do sol que eu tinha em frente,
Escancarei os braços e as pupilas.
Cigarras que eu amei! Para possui-las,
Sofri na vida como pouca gente.

E veio o outono... Por que veio o outono ?
Prata nos meus cabelos... Abandono...
Deserta a estrada... Quanta folha morta!

Mas, no esplendor do derradeiro poente,
Uma nova cigarra, diferente;
Como um raio de sol, bateu-me à porta.


Olegário Mariano
(Últimas cigarras, 1920.)




DESTINO



Aquela voz era intranqüila. Trago-a
No ouvido ainda ininterruptamente:
Voz de alma que sofreu, voz de vivente,
Desoladora e trêmula de mágoa.

Era o rio da Vida; a água paciente
Que, arrastando calhaus, de frágua em frágua
Ora beijava a sombra na corrente,
Ora abraçava o Sol com os braços de água.

Deus te leve, água pura e fresca!... A treva
Não te interrompa a marcha transitória,
Porque o Destino ingrato que te leva

Para o vale florido ou o amplo deserto,
É o mesmo que me arrasta o passo incerto
Para o despenhadeiro ou para a Glória.


Olegário Mariano
(Destino, 1931.)



HOMENAGEM AO POETA ALBERTO DE OLIVEIRA


Não, não morreste, mestre Alberto de Oliveira!
Ouço-te ainda a voz de ritmados acentos.
Ora no perpassar desenfreado dos ventos,
ora no turbilhão das águas em cachoeira.

Vejo-te o vulto ereto e firme de palmeira
A fronte desfraldados largos firmamentos.
E em teus poemas escuto os humanos lamentos,
O rugir das paixões no espasmo da cegueira.

Em cada arbusto, em cada fonte, em cada ser
Ficou, por tua ausência uma sombra de mágoa
Que lá dos altos céus tu não consegues ver.

E nas noites de luar, quando é mais triste o luar,
O Paraíba estende os longos braços de água
Para as margens, num choro triste, a te chamar.


II

E te chama baixinho a cancela da estrada
E o fio d'água, entre begônias na floresta.
Pergunta onde andarás às abelhas que em festa
Tecem poemas de mel na colmeia dourada.

O cavaleiro quando passa em disparada
Diz o teu nome ao vento e o vento à serra. E nesta
Velha paineira aberta em flores, inda resta
Chuva de pólen dos teus versos na ramada.

Festa de asas, cantar de pássaros...Rumor
De insetos...Anda no ar transparente ligeira
A primavera clarinando em teu louvor.

E a casa que foi tua e hoje é casa de Deus,
pelos braços da velha e esgalhada mangueira
Manda-te ao por do sol, o seu último adeus.


Olegário Mariano


O Poeta Alberto de Oliveira foi Professor de Olegário Mariano, em 1904, no Ginásio Pio Americano, na cidade do Rio de Janeiro.

Em 1938 Olegário assumiu o título de Príncipe dos Poetas Brasileiros, substituindo assim, o seu Mestre Alberto de Oliveira.

Homenagem publicada na Revista Ilustração Brasileira de julho/1937



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